Uma luta inglória

Semana passada consegui um progresso em relação ao Felipe que me deixou muito contente. Ele permitiu que cortássemos suas unhas no salão onde o levei para aparar o cabelo. E ontem, consegui cortar em casa, superando de vez o trauma.

Há dois anos ele começou a ter verdadeira fobia de cortar as unhas. Fecha as mãos, encolhe os pés e não se vende por nada. Tentei até “cantinho do pensamento”, e lá ele permaneceu por uns 30 minutos sem ceder. Aliás, foi uma das minhas primeiras derrotas e lições de que exercer autoridade de forma dura nem sempre é a melhor saída, ainda mais no que diz respeito à individualidade e ao corpinho dele.

De tempos em tempos, escalava um membro da família para tentar convencê-lo, mas os esforços têm sido em vão. A solução vinha sendo esperar que ele adormeça num sono profundo para, com a ajuda de uma lanterna, poder realizar a higiene. Mas, de vez em quando, o serviço fica pela metade, pois ele desperta. Na época em que ele dormia em berço, era ainda mais difícil e me causava dor nas costas ter de me debruçar.

Com o cabelo foi o mesmo drama até pouco tempo, só que, ao contrário das unhas, não dava para cortar com ele dormindo. Vivi momentos de verdadeiros escândalos em salão, um sofrimento pra ele e pra mim. Tinha que escolher a dedo um profissional muito paciente e experiente para dar conta do recado. Testei vários até encontrar no Chuca Chuca do Leblon a pessoa certa, a profissional Maria Amélia.

Ele foi crescendo e, a custo de muita conversa e brincadeira, perdendo o medo. Uma coisa que eu disse e ele adorou constatar é que a capa funciona como um “escorrega” de cabelo. Uma dica: levar sempre uma camiseta limpa para trocar depois do corte, para evitar que os fios que sobram piniquem a pele e tornem a experiência desagradável. Ajudou também começar a fazer um penteado estilo Neymar, modelado com gel, e ele receber muitos elogios na rua e na escola. Ficou vaidoso e entendeu que o cabelo, para ficar daquele jeito, precisava de manutenção. Um filme no iPad ou DVD também é sempre um grande aliado para distrair os pequenos durante a função.

Voltando no tempo, lembro que o primeiro corte de cabelo aconteceu em casa, sem percalços, quando ele tinha em torno de seis meses. Uma moça veio cortar o meu e aproveitamos para ajeitar o dele. Passamos a frequentar salões e sei exatamente o dia em que a coisa degringolou. O cabeleireiro ficou muito tempo focado na região atrás da orelha do Felipe, manipulando a cartilagem e encostando a tesoura gelada em sua pele sensível. A máquina que ele usou para dar acabamento ajudou a criar o temor. 

O conselho que gostaria de ter recebido é que mais vale um cabelo imperfeito do que um trauma instaurado. E se você for uma pessoa minimamente habilidosa, faça você mesmo um retoque em casa. Vejo por aí uns bebês com uns fios longos, incomodando no rosto, e pais sem coragem de levar pra cortar por considerar que são muito novos. Se for por opção, por estilo, tudo bem. Caso contrário, não se acanhe. Mesmo que você cometa um vacilo, o cabelo cresce.

Em relação às unhas, acredito que em algum momento o tenhamos machucado, chegado no sabugo. Isso explicaria o pânico que ele desenvolveu. Me deram tarde demais a dica de tentar logo após o banho, pois a unha fica amolecida e é bem mais fácil.

Preciso mencionar uma lembrança engraçada. Eu tinha tanto medo de executar a tarefa quando ele era bebê que foi o pai por meses o encarregado de manter suas unhas em ordem. Comprei uns óculos de esteticista com lente de aumento de cinco vezes para me sentir mais segura…

A foto é antiga, apenas para ilustrar as batalhas que foram travadas no salão.