Uma lição de força e superação

Tive a oportunidade de fazer uma viagem com um grupo de jornalistas para a Suiça, em maio de 2014, e conviver intensamente durante uma semana com a jornalista da Globo Renata Capucci, que sempre admirei tanto. Sabia por alto que ela tinha travado batalhas muito difíceis para realizar o sonho de ser mãe, mas não conhecia os detalhes dessa linda história de superação. 

Nos encontramos num evento na semana passada e fiz um pedido abusado que não esperava que fosse atendido de peito tão aberto. Trocando uma ideia sobre o blog, disse que gostaria muito de falar sobre “perda” no Projeto Cegonha através de um exemplo concreto e tocante como o dela. 

Renata topou escrever publicamente pela primeira vez e se expor como vocês vão ler a seguir com um único propósito: ajudar outras mães. “Se a minha luta trouxer algum conforto ou encorajar ao menos uma mulher a perseguir seu objetivo já vai ter valido a pena”, ponderou. Confiram o relato:

Foi de repente. Bernardo, meu primeiro filho, tinha 33 semanas. O quarto estava pronto, o enxoval idem. A gravidez tinha sido perfeita até então. Mas no dia 6 de setembro de 2004 ele simplesmente parou. Parou de se mexer e morreu dentro do meu útero. Não sabemos o motivo até hoje. Só sabemos que a nossa vida desmoronou. Tivemos que fazer uma cesariana de urgência, providenciar enterro, enterrar nosso menino e viver o luto de nos despedirmos do filho sonhado que se foi antes mesmo de nascer. 

Como era difícil abrir os olhos, todos os dias. Mas eu tinha um sonho: ser mãe. Quatro meses depois da morte do Bê, engravidei novamente. Por coincidência, vejam só, no mesmo dia em que tinha ficado grávida dele, só que um ano depois. Passei esta nova gravidez com muita tensão – justamente por não saber o que havia acontecido com ele e por medo de viver tudo aquilo – mais uma vez. Fiz 19 ultrassonografias. Ia lá só pra ouvir o coração do bebê batendo. 

Até o momento do parto eu tinha medo de que ela não estivesse viva. Mas Lily chegou cheia de saúde e deixou o nosso trauma pra trás.

Passei um bom tempo sem querer ouvir falar de engravidar novamente. Dizia que não queria outro filho. Mas quando ela fez 4 anos e começou a pedir um irmaozinho, resolvemos tentar de novo.

Logo estava grávida. Perdi com 8 semanas. Mais uma decepção. Seguimos em frente e… paft, veio mais um bebê. Era menino e Benjamin foi o nome que escolhemos. Mas quis o destino, a natureza, Deus, sei lá, que – mais uma vez – a gente fosse parar na Perinatal. E não pra ter um bebê. Tive várias hemorragias durante a gravidez e ele não resistiu. Se foi com 22 semanas. 

Que baque. Era o terceiro filho que eu perdia. O segundo em gravidez avançada. E havia um fator extra dessa vez: a irmã, com cinco anos, já esperava pelo bebê, acompanhava o crescimento da barriga. Chorou abraçada a mim e também teve que lidar – tão novinha – com a morte. Mal sabia ela que justamente por ela existir, nosso luto foi menor. Eu precisava levantar, superar minha tristeza: eu tinha uma filha – viva – pra criar, pra dar amor.

Demos um tempo de filho. Mas em 2012, calejados, resolvemos encarar os riscos. Engravidei novamente e rapidamente. Os amigos, a família, todos no fundo achavam que nós éramos loucos. É…nós fomos loucos mesmo. 

Mas não contamos pra quase ninguém da gravidez até recebermos o resultado de vários exames que fizemos. Era uma menina. Quando Lily soube, eu já tinha 18 semanas. O choro, dessa vez, foi de felicidade. E a primeira pergunta: – mãe, promete que essa vai nascer? 

Prometo, filha.

Diana chegou no dia 21 de fevereiro de 2013. Meu parto foi catártico, libertador. Com a mesma médica e a mesma equipe que esteve do meu lado durante todas as perdas. Ela chegou berrando alto, olhando pra mim como se comemorasse a vida, a chegada a esta família que tanto a desejou e tanto acreditou na sua vida. 

Fechamos o livro. Foi como se as tristezas se diluíssem e ficassem distantes… guardadinhas lá numa caixinha do passado.

Hoje Lily tem 9 anos e Diana 2.

Elas são a vitória do amor e da perseverança. 

E hoje, sabem… olhando pra trás…. eu acho que – pra tê-las – a gente passaria por tudo de novo.