A dor e a solidariedade

Os pais que passaram e ainda passam pela dificuldade de engravidar ou viveram a dor da perda de um filho, puderam ler aqui, ontem, o relato de determinação e superação da jornalista da TV Globo Renata Capucci. O texto alcançou uma repercussão inesperada por nós e, como dizem na linguagem web, “viralizou”. Certamente pela coragem em abordar um assunto que é tratado como tabu na nossa sociedade aliada à projeção que ela tem há mais de 20 anos no exercício diário de sua profissão. O sucesso do depoimento de Renata foi consequência de um gesto de generosidade e solidariedade para com outras mães, jamais um objetivo. Recebemos, desde então, outros emocionantes depoimentos na página e em mensagens privadas. Acredito que, ao emprestar sua história, Renata representou centenas de mulheres que enfrentam no anonimato lutas e vitórias semelhantes.

O Projeto Cegonha é um diário da minha segunda gravidez que começou em outubro de 2014. Depois dessa explosão fiquei meio atônita, sem saber o que postar hoje. Não podia simplesmente engrenar outro assunto sem fazer o que os jornalistas chamam de suíte (uma matéria que dá sequência ao assunto). Estava começando a preparar um texto sobre luto quando decidi falar pelo telefone com a Renata para saber o que ela estava achando de tudo isso. Ela manifestou que ainda sentia necessidade de aparar algumas arestas, mas principalmente vontade de agradecer às manifestações de carinho recebidas e revelar uma intenção, firmar um compromisso! Tchan, tchan, tchan, tchan… Que bom que ela é rápida no gatilho, escreve maravilhosamente bem e pôde logo me mandar o texto a seguir:

“Obrigada, obrigada, obrigada. É a primeira palavra que tenho a dizer a todas vocês que comentaram, que me deram parabéns, que elogiaram minhas filhas, que nos desejaram saúde, bênçãos. Que compartilharam suas histórias de dor, que expuseram suas fraquezas, que taguearam amigas que estão sofrendo e que ainda não superaram a tristeza que é perder um filho. 

Se vocês choraram com as minhas palavras, saibam que eu também me emocionei demais com cada demonstração de carinho. E com a confiança que vocês depositaram em mim, relatando parte íntima das suas vidas. 

Cada like, cada comentário, cada compartilhamento deste post teve um imenso significado. Vocês me mostraram o quanto valeu a pena abrir o livro do meu passado e contar a saga que eu e meu marido enfrentamos pra conseguir ter as nossas meninas. Como eu queria, com este texto, atingir o coração de quem, neste momento, se vê sem chão – como eu muitas vezes me vi… Como eu queria, com meu relato, dar esperanças a quem tem medo de tentar de novo… Vocês me provaram que valeu a pena mexer nessa ferida – que sara – mas é impossível esquecer.

A participação fantástica de vocês me deixou ultrafeliz e surpresa também. Eu nunca poderia imaginar que o post se tornaria viral assim. Que maravilha que meu objetivo foi alcançado e sou muito, muitíssimo grata a cada uma que passou por aqui.

Sabem o que eu aprendi com esses episódios? 

Que a gente não controla um monte de coisas na vida, apesar de tentar ter controle. E a gravidez é uma dessas coisas. 

Na primeira, do Bernardo, eu tinha 31 anos. Era supersaudável, fiz um pré-natal impecável, todos os exames estavam ótimos. Não tinha pressão alta nem glicose elevada. Era jovem. E mesmo assim ele parou – de um dia pro outro. 

Fizemos autópsia no corpo do bebê com a melhor patologista do Rio, nada foi encontrado. Passei por uma bateria de exames investigativos pra descobrir a causa da morte, e nada. Fui numa das mais renomadas geneticistas brasileiras pra saber se havia algum problema genético em mim ou no meu marido que pudesse ter causado o aborto, ou mesmo alguma incompatibilidade entre nós dois…. nada. 

Busquei respostas na minha religião e em outras, fui a uma cartomante, consultei tarô, o escambau… nada. Sabem por quê?? Porque não era pra ser. Foi essa a conclusão a que eu cheguei.  Quando algo tem que acontecer, acontece. O contrário, também. E que – infelizmente – nem Deus, nem religião, nada nos blinda de sofrimentos. A fé nos ajuda, sim, na hora de superar as adversidades a que todos nós estamos sujeitos na vida. Seja a fé em Deus ou em você mesma. 

Vocês me chamaram de guerreira.  Não vejo exatamente assim, mas confesso que hoje eu sinto um baita orgulho de não ter desistido. Ainda no centro cirúrgico, durante a cesariana do Bernardo, fiz duas perguntas pra minha médica quando despertei da anestesia: – Já terminou? Foi a primeira. – Quando eu posso engravidar de novo? Foi a segunda.

O desejo de ser mãe me empurrou pra frente. Me obrigou a levantar da cama, a voltar ao trabalho, a olhar pro futuro e a acreditar que seria possível – sim – ter um filho. 

Que esta seja a inspiração pra quem tenta e não consegue engravidar.

Pra quem engravida mas perde.

Pra quem vive uma gravidez conturbada.

Pra quem ganha o bebê mas o perde depois.

Pra todas as mulheres – guerreiras – que não desistem de lutar.

Saibam que vocês me inspiraram também. Foram, juntas, o empurrão que eu precisava pra tirar da gaveta um sonho antigo. O de escrever um livro sobre a vida dos meus filhos. Prometo, em breve, compartilhar essas memórias com vocês.

Muito obrigada, de coração.”

Renata Capucci