Não corra, congele

Mulheres adultas passam a maior parte da vida fértil evitando engravidar. Evitam tanto que o tempo pode passar, os potenciais companheiros podem ficar pra trás e o relógio biológico pode entrar em descompasso. Recentemente soube de uma amiga que realizou o procedimento de congelamento de óvulos. Uma sábia decisão. Que ela possa continuar sonhando com a maternidade por muitos mais anos até chegar o dia de transformar o sonho em realidade. Confiram o texto que a querida Sylvia Orenstein Tourinho escreveu para o blog com o intuito de encorajar outras mulheres a não desistir desse projeto de vida.

Para mim, maio sempre foi o mês das mães.

O mês de pensar na data mais esperada para estar com a minha mãe.

Mas os “maios” foram passando…

O relógio biológico gritava de um lado.

O chefe da empresa gritava de outro.

E eu gritava sozinha.

Apareciam uns namorados, mas não apareciam OS PAIS.

E, nessa falta de aparecimento, eu parecia uma desesperada.

Em poucos anos, as amigas haviam procriado.

Eram mais batizados do que festinhas em apês.

Fui pensando, pensando, pensando, até que congelei.

Isso mesmo, congelei os meus óvulos.

Lembro que era um sábado à noite quando, sozinha em casa, olhei ao redor e vi que faltava algo.

Não na casa, mas em mim.

Tudo estava conforme sonhado.

Carreira bem-sucedida, apartamento próprio, viagens realizadas, farras feitas, mas aquela bagunça no chão da sala estava faltando…

Bagunça de criança.

Solteira, nunca pensei em sexo casual como uma oportunidade para gerar um filho.

Sempre joguei muito limpo comigo, com meus parceiros e, principalmente, com a vida.

Então, numa segunda-feira, tratei de agendar uma consulta com uma renomada ginecologista especialista em reprodução humana.

Decisão: congelar a maior quantidade de óvulos possível, antes que a sua qualidade fosse comprometida pela idade.

Trinta e nove anos já era caso de corrida contra o tempo.

Segui todos os passos para alcançar uma ovulação de sucesso.

Processo que não é barato, requer muita disciplina, paciência, controle e bom humor. 

Bom humor?

Sim, a enxurrada de hormônios que tomamos no período de 15 dias é de tirar qualquer uma do sério.

Assim como o investimento, que, tenho que admitir, ainda é bem salgado.

Mas valeu muito a pena.

Consegui que seis óvulos saudáveis fossem colhidos no tamanho exigido (mínimo de 15mm).

No momento, eles estão guardadinhos alguns graus abaixo de zero.

Por quê?

Porque ainda espero encontrar um companheiro para dividir a tarefa de constituir uma família comigo.

Tenho certeza de que entrar naquele consultório foi o primeiro e grande passo na construção desta mamãe aqui.

Enquanto isso vou treinando com sobrinhos, afilhada, filhos de amigas…

Sonhando com o dia em que não vou conseguir dormir, só pra cuidar do sono tranquilo do meu bebê.

Muitos beijos e todo o meu apoio a quem, assim como eu, ainda acredita que ser mãe é uma bênção.

Sylvia

Sylvia Orenstein Tourinho é baiana, mas está radicada no Rio há bastante tempo. Publicitária, escritora e dinda da Manu escreve mensalmente no blog AQUI ENTRE NÓS (sylorenstein.blogspot.com) com crônicas leves sobre o cotidiano.