Estufa essa barriga, senão…

Nas filas prioritárias para deficientes, idosos e gestantes deveria constar uma observação do tipo: use um crachá ou espere crescer a sua barriga para gozar desse benefício. Uma grávida no primeiro trimestre, que está sofrendo para se adaptar às mudanças do corpo, sentindo um cansaço extremo ao acordar, nauseada em vários momentos do dia, tendo que realizar as mesmas tarefas de sempre mas com metade da produtividade, costuma receber, como eu recebi ontem, na fila do supermercado, um olhar atravessado dos demais clientes. E eu recebi até um cutucão de uma moça que não se conteve e fez questão de apontar a placa com o regulamento.

Eram oito da noite, eu estava saindo de uma festa infantil, meu filho esperava com a babá no carro, meu pai na portaria do meu prédio, pois tínhamos combinado jantar na minha casa e eu estava atrasada. Tudo que eu precisava era de um pote de creme de leite fresco, apenas um mísero pote para poder fazer a massa planejada. As filas normais e até aquela dos 15 itens estavam grandes demais, senão não teria usado esse recurso.

Mas agradeço ao cutucão, que fez com que eu limpasse a minha barra e provasse estar grávida. Deixei de lado o telefone celular no qual já estava tendo uma conversa exaltada com o meu pai, que não conseguia por nada acertar a senha do portão, e dei um grito com a moça que me questionava. “Estou grávida, quer ver meu atestado médico?” Ela e as pessoas em volta tiveram certeza tratar-se de uma mulher alterada, descontrolada e ligeiramente grávida. Voltaram a sorrir, mas eu imediatamente abaixei a cabeça, envergonhada, paguei pelo produto e saí de fininho.

Afinal de contas, as grávidas têm ou não o direito de entrar nessas filas?

 

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