A primeira referência que uma criança com pais casados tem de madrasta é da bruaca que faz da vida da Cinderela um inferno. Ninguém cresce desejando ter uma ou ser uma.
Meus pais se divorciaram quando eu já tinha quase 30 anos e até hoje não fui apresentada a nenhum candidato a madrasta ou padrasto. No meu caso, me apaixonei por um homem que já tinha sido casado e tinha um filho. Me casei e me tornei uma madrasta oficial. Foi, surpreendentemente, a melhor coisa que a vida reservou pra mim. Sou muito grata e feliz com essa nova configuração de família que formei.
Uma noite, no curso de crisma que fiz na Paróquia da Ressurreição, em 2003, o hoje deputado federal Alessandro Molon, pai de três filhos, foi com a esposa Clarisse fazer uma palestra. Uma coisa que ele disse me marcou: “Como é importante para as crianças viverem num lar de pais que se amam e se respeitam”. O tema ali era união e, obviamente, não se falou em separação, mas a minha interpretação e o que tornei como orientação pessoal é que faria de tudo para construir um ambiente de paz e amor quando formasse a minha própria família. E que filhos nunca seriam pra mim a razão para manter um casamento infeliz.
Hoje acredito e sinto na pele que um padrasto ou madrasta também pode amar um filho que não é seu. Meu enteado, João Carlos, que está com 18 anos e que conheci aos 11, é um menino doce, carinhoso e respeitoso. Temos uma relação ótima e, ano que vem, quando ele entrar para a faculdade, pretende vir morar conosco. Quando quer me “agradar”, ele inclusive me chama de boadrasta!
O adolescente vive em Petrópolis com a mãe, uma mulher interessante, de quem gosto muito, e com a qual me dou superbem. Só recebo as melhores energias e manifestações dela e de sua família, seja em Natal, aniversário, Dia das Mães… Também não esqueço as mensagens lindas que enviaram quando o Felipe nasceu, falando do grande elo, o João Carlos, que, indiretamente, nos une… Um privilégio, uma sorte, mas também uma conquista de ambos os lados.
Nos últimos sete anos fomos nos conhecendo melhor, quebrando o gelo e concordando que cultivar uma amizade, mesmo que distante, seria a melhor estratégia. O JC costumava ficar tenso com os nossos encontros, porém hoje ele relaxa completamente, pois sabe que a nossa relação flui de forma bem natural. O Felipe também gosta muito da mãe do JC, a “tia Cacá”.
Falando assim parece até comercial de margarina, né? É claro que nem tudo são flores, só que o saldo é extremamente positivo. Tenho exemplos de amigos próximos vivendo relações muito difíceis com seus entes. Uma tristeza…
Pra terminar, o melhor de tudo é contar pra vocês como o João Carlos reagiu com a notícia de que ia ganhar mais um irmão. Foi ele quem recebeu o primeiro telefonema sobre a novidade e, sem dúvida, foi o mais empolgado da família! Sem qualquer ciúmes ou sentimento pequeno. Ele é bastante atencioso com o Felipe, que é louco pelo “imão”. Que eles sejam unidos é nosso maior desejo.
Quem aqui for madrastra, padastro, ou mãe de uma criança que tem pais postiços, e quiser contar um pouco de sua história e aprendizado, vou adorar saber como é a dinâmica em suas famílias!