Quando viajo pra serra fico mais atenta aos mosquitos e procuro passar bastante repelente no Felipe. Mesmo cercando-o de cuidados, neste último fim de semana a aplicação não foi suficiente para evitar que um borrachudo picasse meu pimpolho na orelha e na pálpebra.
Nunca me liguei muito na composição dos repelentes e sempre comprei os de marca conhecida e bom preço, daqueles que contam com bastante propaganda na TV. Recentemente recebi a dica da Dani Portes, uma mãe da escola do Felipe, sobre um produto mais eficaz chamado Exposis. Comprei sem questionar o fato de custar quatro vezes mais que as marcas comuns e sem entender o que ele teria de tão especial.
Hoje tive a oportunidade de conversar com a dermatologista Leandra D’Orsi Mehtsavaht, que me deu uma aula sobre o assunto. Icaridina é o segredo, um princípio ativo e mais moderno, pouco conhecido do público leigo, que dura 10 horas na pele sem necessidade de reaplicação. Ela ressaltou que é importante ler bem o rótulo dos repelentes em geral para entender os limites e os níveis de concentração dos princípios ativos, pois toxicidade é coisa séria – pode causar alergias, vômitos e até alterações neurológicas, como sonolência.
Confiram as dicas da dra. Leandra:
Os repelentes tópicos funcionam como uma película que repele o mosquito, evitando que ele pouse na pele e faça a picada. Eles podem ter apresentações em creme e gel. E há também os elétricos, de parede. Não matam o inseto, como os agentes químicos em forma de fumaça (o famoso “fumacê”), em pó (o que se coloca em ralos e pratos de plantas) ou spray químico (com rótulo indicando que mata mosquitos).
Os produtos na forma de creme ou gel devem ser aplicados sempre de manhã (lembrando que o mosquito da dengue tem hábitos diurnos) e reaplicados de duas em duas horas, conforme a transpiração ou de acordo com as recomendações do fabricante. A preferência deve ser por produtos aprovados pelo Ministério da Saúde e/ou Anvisa, que garantem sua eficácia.
Que repelente comprar é uma dúvida frequente no consultório. Muitos questionam as diferenças na composição, principalmente as mães. E a preocupação tem fundamento por causa da toxicidade. Deve-se verificar se o repelente escolhido está de acordo com a idade do seu filho. As concentrações e os princípios ativos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) são: icaridina (KB3023) 20% a 25%; DEET 20% a 50%; e IR3535 30%.
O IR3535 é permitido pela Anvisa para crianças acima de seis meses, e o período de proteção conferido é de quatro horas. Icaridina e DEET (com composição até 10%) são recomendados para maiores de dois anos, sendo que o DEET não deve ser aplicado mais que três vezes ao dia em crianças de dois a 12 anos. Já o DEET em concentrações de 11% a 30% não deve ser usado em menores de 12 anos.
O DEET é o composto mais encontrado nas marcas tradicionais e baratas, portanto, mais conhecidas. Ele age com alta eficácia por 20 minutos. Já a icaridina tem ação prolongada, evaporando ao longo de dez horas. Uma vantagem é a praticidade, porém, com custo cerca de quatro vezes maior. No Brasil, a icaridina contém 20% de concentração em sua edição gel e 25% na edição spray, números recomendados pela OMS.
Óleos essenciais de plantas têm sido usados como repelentes de mosquitos, e o de citronella é o que apresenta repelência comprovada. Existem apresentações em creme e sprays, como o California Baby, vendido no mercado americano, e velas aromáticas, populares no Brasil. Muitas pessoas buscam a citronella por ser uma alternativa natural e menos tóxica. No entanto, um estudo científico que compara a citronella a outros agentes mostra que ela tem menor poder repelente, lembrando que o Aedes aegypti é difícil de repelir. Já a icaridina e o IR3535 protegem, de fato, contra o Aedes aegypti.
Bebês até seis meses só devem usar mosquiteiros e roupas protetoras. Não é recomendável o uso de nenhuma substância química em sua pele nem de repelentes elétricos que contenham produtos químicos no ambiente onde se encontram. Mulheres grávidas devem consultar seu obstetra. Uma boa ideia é instalar telas nas janelas e portas. Procurar vestir roupas brancas nas crianças, pois as coloridas atraem os insetos, assim como perfumes. Os dispositivos ultrassônicos e os elétricos luminosos com luz azul são ineficazes.
Somente os adultos devem aplicar o repelente na pele da criança, sempre na parte exposta, evitando o contato com mucosas, boca e olhos. Ele não deve ser aplicado nas mãos da criança nem sob as roupas.