Neste mundo cada vez mais tecnológico, o livro físico vem perdendo espaço para novas mídias e suportes. Cabe a nós, pais, conduzir nossos filhos rumo à interação, à valorização do papel, ao despertar do prazer da leitura. Minha mãe, Katia, uma leitora voraz, recebeu os melhores estímulos em casa e procurou transmitir a mim e a meus irmãos esse hábito tão rico. Agora é a minha vez de fazer o mesmo pelo Felipe e, futuramente, pelo Lucas. Contando, é claro, com a ajuda preciosa da avó, que tem uma narrativa deliciosa, com direito a entonações diferentes para cada personagem.
A Escola Sá Pereira, onde o Felipe estuda, tem contribuído muito com uma rotina maravilhosa de emprestar a cada final de semana um livro escolhido pela própria criança na biblioteca. De um ano pra cá, passamos a ler mais juntos, principalmente na cama, antes de dormir. Dá orgulho ver como ele fica imaginativo, interpretando a trama baseado em suas próprias referências. Outro dia recebi o e-mail abaixo da minha mãe, que também copiou os meus irmãos, e achei que seria gostoso compartilhá-lo aqui no blog. De certa forma, conta um pouco mais da minha história.
“Livros sempre foram um assunto muito sério na nossa família. Vocês irão logo pensar no querido tio Juca [aqui ela se refere ao meu tio-avô José Mindlin, que, ao lado de tia Guita, reuniu a mais importante Brasiliana do país, doada à USP]. Porém, papai [meu avô, o arquiteto Henrique Mindlin] foi, na realidade, e segundo contou o próprio tio Juca, quem o iniciou nesta inesgotável aventura proporcionada aos que são ‘bibliófilos’, ou amantes dos livros, pois era o irmão mais velho. Papai reuniu um outro tipo de biblioteca, se não de livros raros e primeiras edições, ainda assim uma biblioteca com grande conteúdo, multidisciplinar e refletindo a cultura humanista dele e também de mamãe [minha avó era gravadora e chamava-se Vera Bocayuva Mindlin].
Me lembro vivamente do programa de sábado, que era ir com papai às livrarias da cidade e ter carta branca para escolher o que eu quisesse. E, assim, ia ampliando minha própria coleção, que tinha como joia da coroa todos os livros da Condessa de Ségur encadernados e com as minhas iniciais de solteira – K.B.C.M. – gravadas em ouro na lombada, presente do meu avô, Ranulpho Bocayuva Cunha, que vocês não conheceram.
Vou parar minhas reminiscências bibliófilas por aqui, pois esta aventura de descoberta dos livros continua até hoje e tornaria este texto muito looooooongo.
Na realidade, a razão dessa divagação foi o catálogo de um leilão beneficente, ‘House of Illustration’, realizado pela Sotheby’s em Londres, em dezembro de 2014, contendo primeiras edições infantis.
Ao me deparar com a ‘Gift Edition’ de O GRUFALO, autografada pela autora Julia Donaldson e pelo ilustrador Axel Scheffler, achei que seria um bom pretexto para apresentar ao Felipe o universo que é o meu há mais de 25 anos [minha mãe é presidente da casa de leilões Sotheby’s no Brasil].
Este livro é especial na cumplicidade neto/avó, pois marca a primeira vez que nos sentamos lado a lado, na Malasartes, após separar uma pilha de livros. Ao longo de mais de uma hora e da leitura de cinco ou seis livrinhos que acompanhou com atenção, Felipe, sem hesitação, escolheu justamente… O GRUFALO!
Como Tia Renata e Tio Marcello talvez não saibam, o livro se tornou uma quase obsessão, e a cada nova leitura Felipe ia acompanhando o texto de cor. Resolveu, inclusive, compartilhar a história com seus bichinhos, usando vozes diferentes para cada personagem.
Mais uma vez, um livro operou sua magia preenchendo e estimulando o imaginário de uma criança; contribuindo para o seu desenvolvimento intelectual e afetivo…
Se o meu neto adorado herdou o prazer da leitura e a capacidade de se deixar transportar pela fantasia dos autores, é um menino rico e abençoado pois a fonte é inesgotável!”
Então, queridos leitores, que cada criança receba de seus pais, avós, padrinhos, escolas, esta dádiva que é estabelecer uma relação afetiva com os livros. Sem deixar de lado a tecnologia, vamos incentivar nossos pequenos a amar os livros!