Na semana passada, um post que publiquei da Pitada Carioca (minhas dicas de gastronomia para o supermercado Zona Sul) indicando a praticidade de adquirir ovos de codorna já descascados em saquinho rendeu mais de 100 comentários. Muitas mulheres caíram de pedra em cima de mim, dizendo que o meu filho merece o melhor, que eu deveria comprar ovos frescos e cozinhar pra ele e jamais oferecer um produto industrializado. Polêmica instaurada, virou discussão sobre quem é melhor mãe.
Alguns comentários que li aqui ontem despertaram em mim uma sensação semelhante de reprovação. Me senti julgada, condenada pelo meu pragmatismo. Muitas mães fizeram exatamente o que pedi, compartilhando suas experiências de forma honesta e carinhosa, tentando me passar algum conselho. Mas sei também que, por parte de outras tantas, virei alvo de desprezo, quando manifestei minha intenção de aplicar algum método que ensina o bebê a dormir à custa de um pequeno sofrimento e um certo sentimento de abandono. Fui aconselhada a repensar o que posto, mesmo tratando-se de uma página pessoal.
Fui até acusada de estar influenciando negativamente outras mães inseguras, que poderiam ser contaminadas por minhas opiniões sem fundamento. Que eu deveria ter mais consciência da minha responsabilidade, ao me manifestar em um espaço público. Caramba! Até me senti importante diante da remota possibilidade de ter esse poder. Se nem conselho de mãe a gente sempre escuta, o que faz essas pessoas pensarem que vou fazer, quer dizer, que quero fazer a cabeça de outras mulheres? Levantar questionamentos talvez, mas sou apenas uma fonte, um olhar, uma única experiência de vida.
E olha que eu só estava indicando dois livros que são best-sellers e dizendo que tenho a intenção de aplicar algum dos métodos. Um dos comentários mais sensatos que li dizia o seguinte: “De qualquer forma, acho válida a leitura. A gente sempre pode encontrar uma dica e usar isoladamente ou em conjunto com a nossa intuição, que eu acho que sempre fala mais alto”. Simples assim.
Dos comentários relatando experiências com sono de bebês recortei palavras como dedicação, doação, dolorido, desconforto, exaustão, acordar um caco, um trapo, tarefa árdua, perrengue máximo, santa paciência, insanidade mental, processo traumático, quebra de confiança, mulher zumbi, método terrorista… e que o cansaço, implícito, faz parte da escolha de ter filho. Me recuso a aceitar esse pacote de braços cruzados. Por isso recorro a livros, amigos, parentes, cuidadoras. Não sou nem quero ser mãe heroína.
Quero deixar bem claro que o Projeto Cegonha é um diário da minha gravidez. Meu nome é Antonia Leite Barbosa, sou carioca, tenho 37 anos, sou casada com o Joaquim, mãe do Felipe e estou esperando o Lucas. Meu maior compromisso é ser absolutamente verdadeira em tudo que penso e sinto. E estou, sim, muito aberta a mudar de opinião.
Queria propor que quem acompanha as postagens dedique um tempo para a leitura dos comentários publicados por outros pais. Muitas vezes esses depoimentos superam os meus em qualidade e densidade e são infinitamente mais interessantes do que o meu post original. Me ponho a pensar em como gostaria de ter escrito aquilo; ou me vejo elogiando: que bacana esse ponto de vista! Acredito que essa seja a verdadeira troca que enriquece tanto este espaço.
Nunca pensei que encontraria energia, assunto e entusiasmo para escrever todo dia. A motivação, certamente, foi crescendo por encontrar leitoras tão atentas e atenciosas. Que concordam em discordar. Que tentam me mostrar outros caminhos. Meu profundo agradecimento às mulheres que compartilham da minha intimidade e me confidenciam a delas.
E, pra encerrar com uma pequena dose de humor, vou citar a frase espirituosa que um leitor, David Schneiderman, postou durante a discussão dos ovos: “Sorte da codorna que não sabe ler e não precisa passar por isso. A vida seria mais fácil se todos nós botássemos ovos… e descascados. Vamos guardar energia para o que vem aí pela frente.”