A festa ontem foi ótima, mas virei abóbora um pouco depois da meia-noite. Escolhi um sapato com salto grosso e não muito alto que foi relativamente confortável de encarar até o fim. Recebi muitos elogios e alguns carinhos na barriga, o que, atualmente, nem me incomoda, até aprecio, e quando perguntavam para quando era o bebê eu respondia: “A qualquer momento”.
Não acreditava que ele nasceria ontem, mas, por via das dúvidas, antes de sair de casa me lembrei de colocar na bolsa a carteirinha do plano de saúde. O combinado era que eu voltaria dirigindo para que o Joaquim pudesse tomar umas taças.Ao passar pela Lagoa, no exato local onde o médico Jaime Gold foi assassinado no mês passado, avistamos uma patrulhinha da PM e começamos a falar da fragilidade da existência. O Joaquim anda cada dia mais preocupado comigo dirigindo por aí, não só pela gravidez; e eu, mais preocupada ainda com a volta diária dele do trabalho, pois seu trajeto inclui a Av. Presidente Vargas num horário de muita tensão por conta dos assaltos frequentes.
O assunto era sério, mas estávamos levando numa boa, tanto que comecei a dar, em tom de brincadeira, orientações sobre como eu gostaria que ele criasse nossos filhos, caso eu me fosse. Disse que abençoaria um novo casamento, de preferência até com alguma amiga querida, que possivelmente honraria a minha memória e trataria os meninos com mais afeto do que alguém que não me conhecesse. Por mais que a ideia me cause ciúme, acho que seria melhor mesmo que ele formar logo uma nova família, para dar mais estrutura a nossos filhos, do que ficar curtindo a vida de solteiro no Rio de Janeiro.
Só não podia imaginar que o papo desencadearia uma crise de choro da minha parte. Passei a gravidez inteira preocupada em não perder o bebê, mas em nenhum momento ponderei que algo de ruim poderia acontecer comigo também. Senti, pela primeira vez em nove meses, medo de morrer. De morrer no parto.
Não tinha nada a ver com o medo de hospital, agulha, anestesia, de sentir dor, era um medo da possibilidade da ausência. Foi só imaginar não estar presente na vida do Felipe e do Lucas, vendo-os crescer, que as lágrimas começaram a escorrer. Fiz o Joaquim prometer que preservaria uma foto minha em casa e falaria muito da mãe biológica para as crianças. Senti uma angústia enorme, uma dor no peito que levou uns 15 minutos pra passar.
Isso é comum acontecer com as gestantes a caminho da sala de parto? Quem passou por isso pode me dizer qual a melhor forma de afastar esses pensamentos? Ou ao menos ficar em paz com eles?
Hoje comentei com uma amiga esse episódio nefasto e ela repetiu pra mim uma história que a consolou diante de situação semelhante. “Feche os olhos e imagine um Maracanã lotado numa final de Fla x Flu”, disse ela. “Toda aquela torcida, de ambos os lados, para estar ali, naquele jogo, um dia precisou nascer. E de milhares de mães, que devem estar por aí, firmes e fortes. As coisas costumam dar muito mais certo do que errado…”.