Estou passando o Carnaval na serra com dois dos bebês mais fofos do planeta, filhos da minha cunhada Luisa. Pedro e Tomás têm oito meses de vida e são adoráveis. Calmos, risonhos, não choram quase nunca. Era pra eu estar aproveitando a oportunidade para refrescar a memória, querendo participar de pequenos rituais, como banho, papinha, embalos noturnos, e disputando para pegá-los no colo…
Longe disso. Estou sendo a tia mais desnaturada do mundo. Sem muita paciência nem energia para interagir e chegando à conclusão de que a troca nesses primeiros meses é bem menos excitante do que o que tenho agora com o Felipe, que chegou no auge da sua capacidade de encantar e de ser esperto. Essa falta de entusiasmo me deixa preocupada, ponderando sobre que qualidade de tempo e atenção vou conseguir dar ao meu bebê quando ele nascer. Confesso que nunca fui uma mãe muito contemplativa, capaz de ficar horas a fio admirando a cria, mas preenchi todas as lacunas e ganhei algumas estrelinhas. E agora, José? Antes fosse me dirigir ao José… Acreditam que ainda não consegui bater o martelo no nome?
Reflexo da apatia momentânea é minha falta de interesse pelo enxoval. Sei que tenho muita coisa guardada do Felipe que será reciclada, mas viajo daqui a dois dias para o exterior e ainda não fiz uma única aquisição na internet. Só ontem mandei o formulário preenchido para a Gisele Espirito Santo, da Baby’s Concierge, que vai me prestar uma consultoria light. A família e os amigos próximos sabem da minha compulsão pela Amazon. Sou até cliente Prime. Essa abstinência é tudo o que todos menos esperam de mim. Estou com preguiça mental e prostração física. Será que é alguma síndrome do segundo filho? E agravada pelo fato de ser do mesmo sexo? Onde não tem novidade não tem emoção? Por favor, alguém me console e diga que vai passar!!!
Minha mãe revelou que quando a minha irmã nasceu ela sentiu uma culpa enorme em relação a mim, quase um sentimento de traição, e pediu que me levassem o mais rápido possível para a maternidade. Apesar de ela ter lá seus conflitos internos, a chegada da minha irmã Renata foi uma alegria pra mim, que sonhava ter com quem brincar.
Tento imaginar o que se passa na cabeça de algumas mulheres para entender o que estou sentindo, mas acho que é falta de interesse mesmo, menos tempo livre e também um pouco de medo. Medo de não ter a mesma disponibilidade emocional que tive com o primogênito, a mesma dedicação na amamentação, medo de faltar aos encontros na pracinha e às atividades eletivas.
Alguém aqui teve depressão pré-parto? kkk