Quando estava grávida do Felipe, fui a um batizado usando uma sandália de salto bem alto e levei um sermão de um amigo sobre os riscos envolvidos. Me senti tão mal, como se estivesse negligenciando a saúde do meu bebê, que quase pedi desculpas e fiquei descalça ali mesmo. Depois fui ler um pouco mais e entendi que ninguém precisa ser tão radical. É importante ficar atenta à circulação sanguínea e ao fato de estar colocando pressão sobre a região lombar, já comprometida por conta da gestação. E cautelosa, pois o centro de gravidade é outro, devido ao peso na barriga, e a estabilidade e o equilíbrio também não são mais os mesmos. Torcer o pé de bobeira ou levar um tombo é mais comum do que parece.
Com ou sem salto, eu já estou naquele ponto em que chego a uma festa e a primeira coisa que faço é uma vistoria pelos assentos disponíveis e uma busca pela localização do banheiro. Por todas as mudanças que o meu corpo está enfrentando e pela dificuldade de encontrar roupas adequadas à nova silhueta, defendo que alguns centímetros a mais, em doses controladas, podem fazer maravilhas na autoestima de uma gestante.
Por outro lado, descobri recentemente que a sandália rasteira, totalmente flat, também não é a alternativa ideal. Fui em busca de alguma sandália que tivesse o menor salto possível e encontrei na loja Felipa, da Rua Dias Ferreira, no Leblon, o calçado perfeito para atravessar essa segunda gravidez, ao menos agora, no verão. É essa espadrille da foto que me deixa muito confortável. Mas continuo à caça de outros modelos, abertos ou fechados. Se alguém quiser indicar um calçado que tenha feito a diferença (sem perda do charme), vou adorar saber de onde é.
Pra não ficar só nas teorias que pesquisei on-line e dar mais respaldo a essa dica, pedi ao dr. Leonardo Metsavaht, conceituado ortopedista e traumatologista (http://www.metsavaht.com.br/ortopedia/equipe/), que me desse uma opinião sobre o assunto. Leiam o que ele me respondeu:
“Em saúde, nada é óbvio como parece. A primeira impressão é que se a sandália é ‘rasteira’, ela seria semelhante ao nosso pisar descalço, mas não é. Quando utilizamos qualquer coisa que interfira na sensibilidade da sola dos pés com relação ao solo (que seja uma folha de papel), nossa relação com o solo muda, pois estruturas sensitivas chamadas ‘mecanorreceptores’ não recebem as informações ‘cruas’ de quando estamos descalços. Eles são importantes para correções que ocorrem automaticamente em nossos pés a cada passada. Algumas pessoas conseguem se adaptar a essa diminuição de sensibilidade mais que outras, ou têm um padrão de passada mais saudável e tiram isso de letra, outras não e podem sofrer com desconforto na coluna, quadril ou até joelhos. Uma maneira de compensar é elevando um pouco o calcanhar (2-3 cm), o que faz com que as articulações da parte de trás e do meio do pé se encaixem de uma maneira mais protetora para o equilíbrio muscular. Por outro lado, isso aumenta o impacto no calcanhar, por isso não se deve correr de salto alto…
O Rio de janeiro é um polo nacional de pesquisa em biomecânica, tanto que os ganhadores do prêmio mundial de biomecânica são daqui. Vale acompanhá-los em www.biocinetica.com.br ou no Instagram #biocineticabc, pois eles, eventualmente, abordam estes assuntos de interesse cotidiano.”