Circuncisão, nossa decisão

Logo que descobri estar esperando o Felipe, em 2011, fui pesquisar sobre circuncisão, prática também conhecida como postectomia ou ainda, erradamente, fimose (a fimose, na realidade, é uma fibrose – cicatriz endurecida, que se forma na ponta do prepúcio, pele que cobre a glande, a “cabeça do pênis”, impedindo que ela seja colocada para fora). Meu marido precisou passar por isso aos 11 anos e não foi a melhor das experiências.

Nós tínhamos de tomar uma decisão sobre fazer no bebê recém-nascido ou correr o risco da necessidade de uma intervenção futura. Mais tarde, através do dr. Marcio Sister, o urologista que fez a circuncisão em meu filho, ficamos sabendo que cerca de 30% das crianças que não fazem o procedimento logo após o nascimento, em algum momento de sua vida, na adolescência ou na vida adulta, vão ter problemas, o que os acaba levando, obrigatoriamente, à cirurgia.

Conversei com o dr. Fernando Majzels, pediatra que eu havia escolhido para o meu pimpolho, e ele me falou das vantagens e dos benefícios da circuncisão no período neonatal e também dos riscos envolvidos. Hoje, mais de 70% das crianças americanas fazem a postectomia preventivamente. E a circuncisão masculina reduz o risco de se contrair certas doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, estudos científicos têm mostrado que mulheres que mantêm relações sexuais com homens circuncidados têm tido mais dificuldade de desenvolver câncer de colo de útero.

No Brasil estamos inseridos em outra cultura e os costumes muitas vezes prevalecem diante da razão científica. Meu pai, por exemplo, foi veementemente contra a circuncisão no Felipe. Disse que eu ia acabar com a sensibilidade do garoto, que era uma barbárie, uma mutilação tirar a proteção da glande. Já na religião judaica, o procedimento é executado durante a cerimônia religiosa denominada Brit Milá, quando o prepúcio do recém-nascido é cortado ao oitavo dia após o nascimento, como símbolo da aliança entre Deus e o povo de Israel. É motivo de grande festa e orgulho para os pais. Aliás, essa é uma das cirurgias mais antigas de que se tem conhecimento, que se perpetua até hoje.

O pai tem um papel importante que, às vezes, pode até dificultar um pouco essa questão, caso ele também não seja circuncidado. A maioria dos homens tende a querer que o filho tenha a mesma referência de pinto que ele próprio. E como a postectomia por prevenção é uma orientação recente, poucos são os adultos brasileiros circuncidados, apesar de, atualmente, cada vez mais homens recorrerem à cirurgia.

A postectomia – circuncisão – fimose sempre foi e sempre será assunto controverso. Até hoje nenhuma sociedade, nenhum médico e nenhum artigo conseguiu ser explícito sobre fazê-la ou não. Nos últimos anos, a Sociedade Americana de Pediatria tem dado vários pareceres favoráveis à realização do procedimento, já que as estatísticas têm revelado que, além de riscos mínimos à saúde do bebê, a higiene pode ser um fator determinante para que algumas doenças penianas sejam eliminadas, até mesmo o câncer de pênis. A decisão depende muito do que cada médico/pediatra prefere adotar como conduta e de sua influência sobre os pacientes.

Decisão tomada, o pediatra do meu filho recomendou não fazer no hospital logo após o nascimento (até porque, atualmente, por questões administrativas, não se pode mais realizar qualquer ato chamado “invasivo” nos berçários, como cortar as unhas dos bebês ou “furar orelhas” para colocação de brincos). Ele preferia ter certeza de que o bebê não apresentava nenhum sinal que contraindicasse a conduta. É importante observar, por exemplo, se a criança tem icterícia, o que prejudica a cicatrização, ou uma demora da queda do coto (cordão umbilical), que aponta para a possibilidade de imunodeficiência.

Só que, nesses casos, existe outra questão: retornar depois com o bebê para um ambiente hospitalar ou optar pela circuncisão em casa? Se a decisão é pela solução caseira, que foi o meu caso, os médicos tradicionais pulam fora, já que eles somente realizam o procedimento em centros cirúrgicos. Além disso, eles “dão pontos” no pênis, o que torna a circuncisão mais complexa e demorada e também a cicatrização.

Recebi a recomendação do dr. Marcio Sister, que tem em sua prática médica mais de 5 mil circuncisões realizadas, além de milhares de cirurgias urológicas em geral. Entrei em contato e combinei cortar o bilau (só a pele, é claro!) do Felipe na semana seguinte, quando ele já estava com cerca de 15 dias. Dito e feito. Na ocasião, o dr. Marcio me explicou que caso não houvesse nenhuma contraindicação por parte do pediatra, o procedimento poderia ser feito logo que chegássemos em casa, com três ou quatro dias de vida.

O simpático médico, que, além disso, quando solicitado, também faz circuncisões com a cerimônia religiosa judaica, deitou o meu bebê num travesseiro e pediu que nós o ajudássemos, segurando as mãos e os pés, enquanto aplicava a anestesia local. Nessa hora, Joaquim, meu marido, se refugiou na varanda, aflito, evitando a cena por vir. Minha mãe e eu ficamos firmes e fortes na tarefa de tranquilizar meu bebê. O processo todo foi rápido e simples, e deve ter durado menos de cinco minutos.

Felipe resmungou um pouquinho com a picada da agulha da anestesia, mas parou em seguida. No ato da circuncisão não emitiu nenhum som. Se sentiu alguma coisa, certamente não foi nada comparável à minha aflição. O choro talvez estivesse relacionado ao fato de estar sendo imobilizado, muito mais do que por dor, que, provavelmente, nem estava sentindo, já que a anestesia local funcionou perfeitamente.

O dr. Marcio nos orientou sobre como fazer os curativos nos três dias seguintes, e depois seguir vida normal. Felipe não apresentou nenhuma complicação. Estou satisfeita com a nossa escolha, que ainda representa outra vantagem: nenhum trabalho extra com a higiene. A cicatriz da intervenção, com o passar do tempo, vai mudando de aspecto e de coloração; e da mesma forma que nos procedimentos cirúrgicos, ela também fica visível. Entretanto, como na circuncisão em bebês não são usados pontos, a cicatriz é muito mais suave e acaba meio que se misturando com a coloração do resto.

Já entrei em contato com o dr. Marcio para fazer o mesmo procedimento com o Lucas, que chega em breve. É importante frisar que a conduta não recebe cobertura dos planos de saúde por ser considerada eletiva. Apenas casos de complicação posterior ao nascimento (quando há a formação de fimose) recebem o benefício, mesmo assim, apenas em determinados planos.

O valor cobrado pelo dr. Marcio pela circuncisão em recém-nascidos gira em torno de R$ 3.500,00, dependendo de onde ele será realizado (em casa ou no consultório). Quem quiser entrar em contato ou tirar outras dúvidas pode acessar o site do médico, cujo endereço é www.circuncisao.com.br.

Contatos pelo tel.: (21) 2439-8123 / 2439-7777 / 98134-7808 ou pelos e-mails marciosister@clinicavia9.com.br ou marciosister@circuncisao.com.br

 

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