Hoje tive um dia intenso, quando o mais indicado seria desacelerar. Depois de mais uma noite de insônia, tendo ficado acordada das três às seis da manhã e levantado novamente às sete, amanheci no consultório da endocrinologista, dra. Mirella Hansen, que me deu uma excelente notícia. Disse que assim que o bebê nascer posso relaxar com a dieta e parar de controlar a glicose, pois, em 90% dos casos, a diabetes gestacional acaba logo após a expulsão da placenta. Mas, um mês e meio depois, devo fazer novamente o indigesto teste da curva glicêmica para poder ter uma alta segura. E, para finalizar, rolou um parabéns, seguido de um leve sermão de que se eu não levar uma vida saudável daqui pra frente, serei forte candidata a ter, no futuro, uma diabetes tipo 2. Ela ressaltou a importância do acompanhamento da glicemia durante o trabalho de parto e prescreveu para a obstetra medicação de glicose intravenosa ou insulina subcutânea, caso eu saia da faixa de segurança.

Tive um compromisso profissional um pouco depois e, na volta, saltei a três quadras da minha casa para pagar uma conta de material de obra pendente na Santa Domenica, loja de ferragens que frequento assiduamente. Não posso parir com dívidas, pensei. Aqui em casa eu sou uma espécie de Griselda Pereirão, personagem faz-tudo interpretado pela Lilia Cabral numa recente novela. Trouxe para o casamento a mala de ferramentas, a furadeira, e me encarrego desde a troca de lâmpadas até pequenos reparos. Em 90% dos casos sou bem-sucedida, nos outros 10% causo graves prejuízos, como no dia em que furei um cano no banheiro tentando prender um espelho de maquiagem.

Na caminhada de volta pra casa senti dores bem fortes. Foram as três quadras mais longas dos últimos nove meses. Achei, por alguns instantes, que seria o caso de chegar em casa e ligar para a obstetra. Mas, fazendo um longo pipi e deitando por meia hora na cama, a dor passou e fiquei o restante do dia sem sentir nenhuma alteração. Acho que foi só reação da minha bexiga, comprimida pelo Lucas. Um sinal de protesto.

À tarde, participei de um interessante curso de shantala com a professora Carolina Chediak. Carol é do tipo mulher-Bombril, pois, além de fotógrafa (lembram o meu ensaio publicado aqui?), ela dá aulas de ioga, dirige peças de teatro e oferece esse curso, que acontece regularmente dentro do Espaço Bella Gestante​. Mas hoje, excepcionalmente, a aula rolou na minha casa para um grupo que incluía, além de mim, três amigas e dois bebês. Enquanto eu e a Mariana, outra grávida, ficamos treinando com bonecos, as duas outras mães, Alessandra e Isabela, puderam colocar os ensinamentos em prática. E como se comportaram bem e se deliciaram os fofuchos Vittorio e Rafael!

A shantala é uma massagem indiana para bebês baseada nos princípios da massagem ayurvédica, que ficou conhecida no Ocidente graças ao médico obstetra Frederick Leboyer, que viu nas ruas de Calcutá, em 1970, uma mãe sentada no chão massageando seu bebê. Ele ficou encantado com aquele ritual de silêncio, harmonia, ritmo, ternura, beleza e amor entre mãe e filho.

A técnica consiste em uma sequência específica de toques no corpo do bebê com uso de óleos apropriados e movimentos lentos e suaves. São compressões e alongamentos passivos por todo o corpo que ativam a circulação, relaxam e fortalecem os músculos e tecidos, auxiliam no desenvolvimento da motricidade, previnem gases, melhoram a qualidade do sono, ajudam o bebê a perceber o próprio corpo e o mundo, ampliam a capacidade respiratória e aprofundam a conexão entre mãe-pai-bebê. Ufa, tá bom ou quer mais?

Eu já tinha pesquisado o método quando o Felipe era bebê e realizado shantala improvisada nele algumas vezes, mas foi ótimo recapitular e aprender novos movimentos. O encontro também me conscientizou dos benefícios, pois, na época, depois que passou a “novidade”, ao invés de introduzir a prática na rotina abandonei-a muito mais cedo do que deveria.

A aula acabou em torno das 17 horas e, na sequência, recebi a Monik Moreth e a Juliana Vieira, sócias da Trevo Filmes​, uma empresa de fotografia e filmagem de famílias. Decidimos registrar todo o nascimento do Lucas para poder compartilhar com vocês. Afinal de contas, não quero deixar minhas fiéis 17 leitoras sem o último capítulo da novela, kkk. Ainda estou considerando como vou levar o projeto depois e se vou ter energia para tal, por isso acho que, por hora, o melhor é garantir o registro do nascimento, que entregarei a vocês como um agradecimento, uma espécie de grand finale.

A dupla veio até aqui para nos conhecermos pessoalmente e captarmos um depoimento meu e algumas cenas de abertura para o vídeo do Lucas. Fizemos registros meus brincando com o Felipe, que colaborou “parcialmente”. Era nítido como ele oscilava entre momentos de ciúme e entusiasmo com a chegada do irmão.

Hoje cedo me partiu o coração a reação que ele teve quando eu disse que ia sair com o papai para ir ao médico. Ele fez um bico, começou a chorar e repetia: “Quem vai cuidar de mim? Não quero ficar sem você e sem o papai!” Acho ótimo que ele esteja conseguindo verbalizar o que está sentindo diante de todas as mudanças à sua volta, mas esse sofrimento, que vai muito além de uma preocupação com a agenda do dia, tinha um tom de questionamento existencial que me deixou muito triste.

Comovidas com o meu post em que contei que mais da metade das minhas roupas de maternidade são usadas e um tanto surradinhas, recebi um lindo presente hoje das queridas Katia Mello, Renata e Malu Vidal (Malu é coleguinha de turma do Felipe): um kit maravilhoso de camisola, pijama e roupão da Dormez Vous​, loja que pertence à família e fica no andar térreo da Galeria 445, bem em frente à Cobal de Botafogo. É tão raro as pessoas se lembrarem da mãe… Os presentes, em geral, vão sempre pro bebê. Ganhei o dia. E realmente fez a diferença. Já botei o pijama pra lavar e secar pra dar tempo de trocar por um dos velhinhos que estavam na mala.

Reparei hoje que em três momentos distintos do dia meu seio ficou umedecido. Eram gotas de leite começando a jorrar…