Recebi nos últimos dias um filme com uma campanha americana alertando para o risco de enforcamento que as cordas de levantar e abaixar persianas representam. Nos EUA morre uma criança a cada duas semanas desta causa, uma morte considerada “silenciosa” porque os pais muitas vezes estão no mesmo ambiente que a criança, mas distraídos não percebem que uma simples brincadeira pode acabar em estrangulamento.
Como jornalista agradeço receber todo e qualquer tipo de informação sobre maternidade que possa ser relevante para o blog, mas enquanto gestante, fico muito mais sensível e impactada com essas notícias. Nos últimos dias soube também de duas amigas muito queridas que perderam seus respectivos bebês recentemente, grávidas de três e cinco meses. Não parei de pensar nelas desde então. Ao mesmo tempo em que me considero uma mulher de muita sorte.
Me lembrei de um dia muito triste em que chorava sem parar ao assistir o Jornal Nacional. Tinha acabado de chegar do hospital com o meu filho recém-nascido e saudável nos braços e outra mãe perdido seu bebê por um erro médico tão estúpido. A enfermeira trocou os conectores e administrou leite materno no sistema venoso. Aquilo cortou meu coração, foi como se o sofrimento daquela família tivesse batido diretamente na minha porta. Compadecia deles e agradecia por estar tudo bem conosco.
Quem puder evite comentar com uma mulher no estado puerperal histórias tão tristes. Protejam suas gravidíssimas e lactantes. Recomendo também que as próprias blindem-se do mundo externo, passem uns dias mais alienadas ou ao menos fazendo uma leitura seletiva, pulando a parte do noticiário. Pelo menos até recobrarem seus sentidos, poderem ser capazes de controlar suas emoções sem afetar tanto o bebê.
Até hoje achei que tivesse mapeado todos os potenciais riscos da minha casa. Instalei redes de segurança em todas as janelas, coloquei lacres nos armários de produtos de limpeza, medicamentos em prateleiras altas, facas fora do alcance, lâmpada de LED no abajur do quarto do Felipe, protetor de quinas e me dei por satisfeita. Quando ele era menor até medo de afogamento em vaso sanitário estava no meu radar. Vai que ele se debruça e cai de cabeça… Por isso fico tão preocupada quando abrem-se novas frentes.
As cortinas da minha casa são de rolô com um puxador de pequenas bolinhas de plástico que parece ser bem frágil, sem muita folga, provavelmente arrebentariam com o peso do corpo, mas depois de assistir o tal video passei a olhar todas as janelas com outros olhos.
Faz um tempo que não tenho folguista nos finais de semana e já cansei de acordar cedo com o Felipe, colocar um filme pra ele assistir na sala e voltar a dormir mais uma horinha. Já não vou conseguir fazer isso com a mesma naturalidade. O pai gosta de acordar ainda mais tarde do que eu. Como durante a semana ele sai cedo da cama pra trabalhar, muito antes de mim, dou a ele esse merecido descanso no sábado e domingo.
O Felipe não foi até então um garoto bagunceiro, mas acho que relaxo e confio demais nesse comportamento. Nunca precisei mexer na disposição dos móveis da casa, tirar coisas do lugar, pois ele sempre respeitou objetos decorativos. Mas atenção! mesmo os santinhos tem dias de capetagem.
Semana passada ele aprontou uma que me deixou boquiaberta. Eu não estava em casa e a babá me relatou que na hora da aula de natação ele fugiu pro quarto dela e trancou a porta por dentro. O sistema de fechamento é um trinco fixo, igual ao que tenho em todos os banheiros. Nervoso, não conseguiu girar a chave. O resgate deve ter levado algo entre cinco e dez minutos, que para uma criança desacompanhada pode ser uma eternidade.
Trate muito bem o seu porteiro, porque ele pode ser um anjo da guarda nesses momentos, como foi o meu Ivanildo. Acionado pela babá foi ágil e perspicaz de perceber que poderia abrir a porta com uma simples chave de fenda. No dia seguinte um chaveiro da rua veio aqui e me forneceu uma chave mestre, que já fixei num local acessível a todos os adultos. Tive uma longa e séria conversa com o Felipe, que parece ter aprendido a lição, mas sábia é a mãe que admite que não dá pra confiar.