Filho doente, mãe culpada

Acabei de gastar meia hora limpando o vômito do Felipe no sofá da sala. O pai dele e eu nos entreolhamos e quase pedi um “par ou ímpar” pra decidir quem ia acudir a criança e quem ia tratar da sujeira. Duas coisas passaram pela minha cabeça enquanto executava a tarefa e tampava o nariz: 1) Eu merecia estar ali, pois ignorei os sinais de que o Felipe não estava bem desde hoje cedo; 2) Por que não contratei a caríssima “manutenção” oferecida pela empresa que aplicou o Scotchgard no sofá (um impermeabilizante em spray que mandei aplicar assim que o adquirimos, em 2013)?

Na parte da manhã o Felipe não quis participar da aula de capoeira. Ficou emburrado e isolado. Pensei comigo que era uma questão de adaptação, já que era a segunda aula do ano. O alerta seguinte foi dado pela babá Cris, que comentou que ele estava um pouco molengo e quente. Botei a mão na testa, não senti alteração e mandei-o pra escola, à tarde. Queria minhas quatro horas e 45 minutos de tranquilidade, já que a babá ia embora para o fim de semana e eu tinha muita coisa pra resolver.

Preocupada com os meus afazeres, nem me lembrei de pedir ao professor que desse uma atenção especial ao meu pequeno e ficasse de olho nele. Falha grave.

O Joaquim chegou mais cedo do trabalho e foi apanhá-lo. Voltou com o Felipe febril e deitado no colo. O professor disse que ele só deu sinais de fadiga na última meia hora, então o colocou deitado confortavelmente no cantinho da sala até o horário normal da saída.

Medicamos com 12 gotinhas de Alivium 100, o pai deu um banho morno, eu coloquei nele um pijama gostoso e sintonizamos seu desenho preferido na TV do nosso quarto. Avaliei o quadro geral e pressupus, com o meu conhecimento de causa, quais seriam os acontecimentos seguintes: “Em cerca de 40 minutos ele vai começar a transpirar, a temperatura vai descer e uma hora depois vai estar se sentindo melhor, até que daqui a quatro, cinco ou seis horas, um novo pico de febre deve recomeçar. Conheço esse filme e o pai pode segurar essa pra mim por mais uma hora…” Então dei beijinho-beijinho, tchau- tchau, e fui pra hidroginástica na Bella Gestante.

Não imaginava que o cenário poderia piorar tanto. Voltei e o encontrei dengoso, amuado. Pouco depois, ele passou mal. Dá muita, muita pena ver um filho nesse estado, reclamando de um incômodo ou de outra dor qualquer. Agora, pelo menos, ele consegue verbalizar o que está sentindo, mas… e quando era bebê? Preparem-se, marinheiras de primeira! Temos de ser fortes e intuitivas para lidar com as inevitáveis febres, as viroses e os resfriados!

PS: Enquanto eu terminava de escrever este texto, ele botou mais comida pra fora. O pai foi sagaz e teve agilidade para tirá-lo de cima da nossa cama segundos antes do episódio. Telefonei pro pediatra, o dr. Fernando Majzels, que prescreveu Digesan e dieta leve para amanhã. E ainda alertou que o quadro pode evoluir para diarreia, pois recebeu ligações de várias outras mães descrevendo os mesmos sintomas. Felipe disse antes de capotar: “Estou me sentindo bem”, mas desconfio de que a noite pode ser longa…

 

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