A cama é de quem?

Como diz o ditado: “Pé de galinha não mata pintinho”. Mas pé de pintinho também não deixa por menos e faz um estrago! Nessa última noite levei duas chaves de perna e mais uns oito pontapés dormindo com o Felipe na nossa cama. Estávamos na serra e ele teve dificuldade para dormir em seu quarto. Acordou várias vezes tossindo e com pesadelos.

Chega uma hora em que o meu marido e eu cansamos de ficar indo e vindo para acalmar o menino, especialmente nas noites em que ele está com algum sintoma fora do comum ou doentinho. Então a gente cede e o traz pra nossa cama. O pai, eu diria que já “amarela” na primeira acordada da madrugada, até porque vencer o sono é difícil e o Felipe, dormindo com a gente, não o incomoda tanto. Ele faz bilu-bilu no filho, deita de lado com a cara pra parede e volta a dormir pesado. Diante da muralha formada por seu tronco, a criança não tem alternativa a não ser se aninhar em mim. Tento fazer o mesmo que o pai, mas o Felipe escala a minha cabeça, se pendura no meu pescoço e escolhe, ao final de muito sassarico, uma posição perpendicular ao nosso corpo. Vou me esquivando dos chutes e quase caio dos 10% de colchão que me restam, mesmo tratando-se de uma cama tamanho king size. O moleque é megaespaçoso… Quem aqui conhece bem esse filme???

Não quero nem entrar no mérito comportamental de como esse péssimo hábito vicia as crianças. Compreensível, pois a sensação pra eles deve ser de segurança e aconchego total. O preço a pagar é que eles deixam de tentar superar a falta de sono, os pesadelos, o despertar noturno e correm para a cama dos pais na primeira adversidade. E o mais grave, na minha opinião: o preço que isso custa para o casamento, a invasão de um espaço sagrado para o casal. Tenho um amigo que conta, abertamente, que quando o filho vem pra cama dele na mesma hora ele levanta e vai dormir o resto da noite no quarto da criança.

Curioso é que quando eu estava grávida, sonhava com o dia de botá-lo dormindo entre nós. Achava que isso seria um delicioso ritual em família. Só não o fiz porque fui devidamente alertada, a tempo, sobre o perigo que é um bebê dormir na cama dos pais. Com o cansaço das noites mal dormidas, um dos adultos pode rolar por cima do neném e sufocá-lo até a morte. Sim, falo em morte porque quero mesmo apavorar as futuras mamães. É muito arriscado, principalmente nos três primeiros meses. Segundo um estudo britânico, compartilhar a cama com recém-nascidos aumenta cinco vezes o risco de a criança ser vítima da síndrome da morte súbita.

Minha dica: esqueça dormir junto e invista no despertar em família. Um dos melhores momentos da semana é quando ele acorda no sábado ou domingo e vem pra nossa cama fazer bagunça. Comprei até um banquinho que fica embaixo da minha mesa de cabeceira para deixá-lo com mais liberdade para subir e descer.

 

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