O Felipe nasceu sábado, dia 5 de novembro, e na segunda-feira seguinte pela manhã recebi alta do hospital, mas ele não. Minha obstetra explicou que por mais difícil que fosse deixar a maternidade sem o bebê, eu estava bem fisicamente e não seria ético bloquear um quarto numa cidade com poucas maternidades. E que eu ainda tinha a vantagem de morar na mesma rua e me deslocar sem complicações. Mais um motivo para justificar minha liberação.
Essas idas e vindas à maternidade em intervalos de três horas duraram mais um dia e meio, quando o Felipe foi finalmente liberado. Mesmo sendo vizinha da Casa de Saúde São José, eu tinha tempo apenas para chegar em casa, deitar uma horinha, beliscar alguma coisa e voltar à UTI para ordenhar. Tudo muito cansativo. Os médicos precisavam monitorar quantos mililitros ele estava conseguindo absorver, por isso o peito foi ficando pra depois. Foi apenas na noite do terceiro dia que o amamentei no colo pela primeira vez. Uma emoção muito grande. Uma paz no coração. A enfermeira ajudava nessa nossa “apresentação” e usava truques, como um carinho na bochecha para estimular a sucção.
Só tivemos a confirmação da alta, dada pelo pediatra dr. Fernando Majzels, no final da manhã de terça-feira. Os seis conjuntos de tricô feito a mão com camisa pagão, alguns emprestados, outros presentados e a maioria comprados por mim (custaram uma fortuna) para exibir meu príncipe às visitas, permaneceram intactos, pois na UTI eles ficam de fralda ou, no máximo, de body. Mas um deles acabou sendo a escolha perfeita para a saída da maternidade. O que carregava o escudo do Super-Homem.
Nós nos despedimos de toda a equipe e senti muita pena das outras mães companheiras. Elas ainda teriam uma longa jornada pela frente e apenas um sofá no corredor para descansar nos intervalos. Mesmo assim, vibravam com a nossa ida pra casa como se estivéssemos fazendo a fila andar, esperançosas de serem as próximas.
O Joaquim foi com o Felipe no colo no banco detrás e eu assumi o volante. Não lembro por que, dada a minha fama de barbeira, mas acho que foi a confiança de que ele teria mais firmeza para segurar o bebê no colo. Já que a distância era muito curta, preferimos não prender um ser tão pequenininho na cadeirinha do carro.
Naquela tarde, nossas famílias foram conhecer o mais novo membro do rebanho. Até a minha cunhada Luisa conseguiu dar uma escapada entre as mamadas do primo Francisco (18 dias mais velho que o Felipe). A ocasião mereceu um brinde à altura. Abrimos uma Dom Pérignon safrada. Um dia muito feliz que nunca vou esquecer.