Sonhos e pesadelos

Noite passada tive um sonho tenso, daqueles que a gente consegue lembrar bem no dia seguinte. Coincidência ou não, passei o dia angustiada e distribuindo patadas em quem estava ao meu redor. O sonho:

Eu estava na ultrassonografia de cinco meses e o médico, meio constrangido, me dava a notícia de que eu não estava esperando um, mas dois bebês. A razão pela qual não tínhamos enxergado isso em exames anteriores era porque os gêmeos estavam em “perfeita sobreposição”. Depois ele dizia que esse segundo bebê inesperado era uma menina. Apesar do susto, fiquei eufórica com a perspectiva de ter um casal.

Prosseguindo com o exame, o semblante do doutor foi mudando de expressão, até que ele respirou fundo e nos informou que a menina tinha síndrome de Down. Não lembro bem como foi minha reação ou o que aconteceu depois, mas passei o dia tentando interpretar o que esse pedaço do sonho representava.

Senti saudades do Chang, um psicanalista junguiano que me atendeu durante um tempo. A gente conversava muito sobre os meus sonhos e seus significados. O que ele teria dito? Será que esse sonho veio carregado de culpa por eu ter desejado tanto uma menina antes de descobrir que espero um varão? Por eu ter dito aqui que faria um aborto se descobrisse no resultado do NIPT uma indicação de doença genética? Seria o sonho um teste para as minhas teorias?

Uma coisa é fato. O nascimento dos gêmeos da minha cunhada há seis meses, que não fez nenhum tratamento nem tinha histórico na família dos pais, nos deixou apreensivos sobre as chances de uma dupla gestação. Gosto do exercício, mas não levo meus sonhos a sério. Eles têm sempre algum componente muito surreal, e este talvez seja apenas um alerta para considerar voltar a fazer análise.

Uma amiga outro dia leu meu relato sobre ter tirado a chupeta do Felipe e escreveu: “Por que não consulta uma psicóloga? É um momento importante da vida do Felipe. Ele amava um negócio e perdeu. Como proceder corretamente? Será que tem a ver tentar agilizar a maturidade dele por causa da data da chegada de outro irmão? Ele não tem nada a ver com o outro irmão. Estou com pena do Felipe, mas talvez você esteja certa. Por favor, ouça uma psicóloga…”

Ando pensando no conselho dela. “Overwhelming” é uma boa palavra em inglês para explicar esse momento da gravidez. Ela pode ser traduzida como “sufocante”, “consternante”, “devastador”, mas nesse caso a melhor definição seria: tão intenso que sufoca.

Quem não fazia terapia e procurou ajuda fez um trabalho focal nesse período?

 

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