O blog tem me trazido coisas muito boas, como ter reencontrado, através da Monica Maia, a Fernanda Oliveira, uma amiga do tempo do colégio Santo Inácio. E de ter sido surpreendida pelo convite para escrever a orelha do livro que ela escreveu a partir das experiências pessoais com o seu Brotinho. Em Coisas bizarras que você só descobre quando é mãe, da Editora Bicicleta Amarela, um novo selo de títulos “parenting” da Editora Rocco, Fernanda, que é jornalista e psicóloga, revela sem firulas o lado B da gestação e ainda fornece inúmeras dicas preciosas.
Gostaria de convidar as leitoras do Projeto Cegonha para a noite de autógrafos nesta quarta-feira, a partir das 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. E também sortear aqui um exemplar autografado. Para concorrer, basta colocar o seu nome no campo dos comentários e ter um endereço de entrega no território nacional. O sorteio será realizado nesta terça-feira.
E, obviamente, não poderia deixar de pedir à autora que escrevesse algumas palavras para o blog, contando da sua motivação e apresentando a obra, uma leitura deliciosa e informativa.
COISAS BIZARRAS QUE VOCÊ SÓ DESCOBRE QUANDO É MÃE
Fernanda Oliveira*
Um dia, quando o meu filho tinha dois meses de idade, saí na rua para resolver um pepino qualquer. Caminhava pela calçada exausta, meio sonâmbula. Olheiras profundas. Com um recém-nascido lactente em casa, dormir mais de três horas seguidas era um luxo. Numa esquina, por acaso, encontrei uma amiga muito querida, mãe de dois filhos. Dei um abraço apertado nela, com os meus peitos de Barbie, moldados pelas conchas rígidas de silicone que eu usava para conter vazamentos. Angustiada, olhei no fundo dos olhos dela e perguntei: por que ninguém me contou?
Essa pergunta me acompanhou desde o início da gravidez.
Por que ninguém me contou que é tão difícil trabalhar no primeiro trimestre da gestação? Eu sentia tanto sono que cheguei a me refugiar, certa vez, no banheiro do trabalho para tirar uma soneca ali mesmo. Cinco minutinhos. Afinal, não é bom tomar muito café nessa fase. E o pior: ninguém sabe que você está grávida, porque em geral se espera até o terceiro mês para espalhar a notícia. Ou seja: lá está você, mulher-zumbi, por um motivo superjustificado, mas precisa fingir que está tudo bem.
Por que ninguém me contou do inchaço nos pés, da propensão generalizada à flacidez, do acúmulo de celulites, varizes, estrias?
Por que ninguém me contou do calor infernal das últimas semanas (no meu caso, no auge do verão carioca, quase evaporando com bebê e tudo)?
Eu senti necessidade de contar. Durante toda a gravidez, escrevi, escrevi, escrevi. E percebi que muitas companheiras gestantes compartilhavam comigo da vontade de falar desses assuntos, das coisas bizarras que você só descobre quando está grávida. O final feliz desse grande desabafo foi vê-lo transformado num livro, que será lançado pelo simpático selo Bicicleta Amarela, da Editora Rocco.
Naquela conversa com a minha amiga na esquina, ela sorriu diante do meu desamparo puerperal e arriscou uma hipótese: acho que ninguém conta essas coisas bizarras porque as coisas boas são tão maravilhosas que a gente se esquece da parte ruim. A gente esquece o perrengue, o sacrifício, as noites mal dormidas. Cada dia que passa, parece que o amor pelos filhos só aumenta. Isso não é um troço incrível?
Não, respondi mentalmente, do fundo do meu mau humor, e me despedi apressada. Estava na hora da próxima mamada.
Um ano depois, quando o meu filho desmamou, teve início um período – que dura até hoje – de doce saudade daqueles encontros extraordinários, em que ele se nutria de um alimento magicamente fabricado pelo meu próprio corpo. E veio também a saudade da gravidez. E a saudade do terrível primeiro trimestre, momento em que a gestação tinha um sabor secreto de novidade, um brotinho crescendo na minha barriga. Quando me dei conta, eu já estava sonhando em experimentar tudo aquilo de novo: o barrigão das últimas semanas, os vazamentos de leite, as malditas conchas de silicone. Sonhando com o próximo filho. Coisas que só descobri com o tempo. Não porque ninguém me contou, mas porque precisou a vida me mostrar, para eu conseguir escutar.
Sim, respondo agora à minha amiga, dois anos depois. Isso realmente é um troço incrível.
*Psicóloga, jornalista, professora da Faculdade de Educação da UFRJ e autora do livro-desabafo Coisas bizarras que você só descobre quando está grávida.