Superexposição?

Na última reunião de pais na escola do Felipe, semana passada, uma mãe revelou preocupação com a publicação de fotos da turma no nosso grupo de WhatsApp, que reúne apenas os pais dos alunos. Ela argumentou que esse compartilhamento tirava a espontaneidade dos relatos da filha, já que, muitas vezes, por conta das fotos recebidas, a mãe antecipava os eventos do dia. E que considerava isso uma invasão da privacidade das crianças também porque sua filha mexia no aparelho e nem sempre gostava de encontrar foto sua no celular da mãe.

Como quem criou o bendito grupo fui eu, logo empombei, levantando o dedo e pedindo a palavra. Disse que não considerava as postagens abusivas (tirando o período da adaptação dos novos alunos, no início do ano, época em que rolou um excesso mesmo, concordo). Pois hoje são postadas apenas as fotos dos dias de aniversário na escola, quando os pais do homenageado participam da festa e fazem os cliques.
Acrescentei que ela poderia simplesmente deletar as imagens e censurar o acesso da criança ao celular, tarefa não tão difícil, visto que ela tem só três anos e meio. Dois pais que estavam na reunião e que encontrei no caminho de casa comentaram que se os filhos tivessem acesso às pornografias que eles recebem de amigos no celular, a educação da prole estaria comprometida…

Não chegamos a nenhuma conclusão sobre a conduta mais adequada e saí da reunião meio irritada, a ponto de continuar minha argumentação no grupo do Facebook, defendendo que, desde que respeitássemos aquele ambiente e não postássemos nada em mídias sociais, tudo bem. Comentei ainda que o meu filho era reservado e raramente entrava em detalhes sobre as festas na escola e que aquela era, sim, uma boa oportunidade de bisbilhotar o mundinho dele.

Coincidentemente, no último domingo abri o jornal O Globo e vi publicada uma matéria sobre pais que postam muito sobre filhos. Acho a discussão válida, mas não concordo com o excesso de zelo que alguns deles defendem com unhas e dentes.

http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/pais-que-postam-muito-sobre-filhos-violam-sua-privacidade-alertam-especialistas-16312721?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O+Globo

Meu caso, obviamente, é atípico, pois, desde que decidi tornar esta segunda gravidez pública, postar eventualmente fotos do Felipe é inevitável. Mas, bem antes disso, eu já tinha criado para ele um perfil fechado no Facebook e no Instagram e reduzido bastante as postagens na minha página, que é aberta.
Pela reação do Felipe, pude perceber que o que incomoda a criança muitas vezes não é onde vão parar as fotos, mas a interrupção do momento de lazer. A sintonia ou não com os pais na hora do clique também pode ser determinante para a reação. Meu filho não faz ideia nem está preocupado, ainda, com o lugar onde vão parar as imagens que tiro dele. Quando volta e meia ele diz em alto e bom som que não quer saber de foto está muito mais incomodado com a minha postura paparazzi de plantão do que com qualquer outra coisa.

Todos nós sofremos bullying na infância, mesmo quando o termo ainda não era amplamente empregado. E sabemos que se uma criança quer ser perversa ela encontra meios. Vasculhar por registros de mil anos atrás para achar uma foto embaraçosa de um colega me parece trabalhoso demais. Prova disso é a rede social Snapchat, novo fenômeno da web. O conteúdo postado lá é perecível. As novas gerações não têm muito apego à memória. Enquanto eu não consigo deletar e-mails no meu computador, a juventude vai virando a página com uma facilidade invejável, não quer saber de histórico. Eles vivem um momento de impermanência, de transitoriedade.

Tenho parentes vivendo em outros estados e fora do Brasil e a possibilidade de fazer com que participem da vida do meu filho só traz alegria a todos nós. Não se trata de exibicionismo, mas de uma forma de deixá-los inteirados das andanças da família. Minha percepção é a de que o saldo é positivo e não vejo razão para mudar. A não ser que isso comece, de fato, a incomodar os meus filhos. Aí, sim, darei a eles o poder de censurar e apagar o passado.

Qual a posição de vocês em relação a expor ou não os filhos na internet? Procuram ter algum cuidado?

 

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