Sociedade inclusiva

Muito bacana a repercussão do relato da Mariana Reade, ontem, aqui no blog, sobre a descoberta da síndrome de down na filha recém-nascida. Me lembrei muito da Maria Christina (Killy), hoje uma adulta no alto dos seus vinte e poucos anos, com quem convivi de perto quando trabalhei com sua mãe, a arquiteta Stella Lutterbach. Killy, que também tem síndrome de down, é um talento, uma estrela e uma alegria na vida de todos à sua volta. Escreve livros, dá aulas de informática e arte numa creche comunitária e ajudou a criar o portal www.movimentodown.org.br.

Na escola onde estudou me contaram que a turma da Killy era a que apresentava o melhor desempenho escolar da série, em parte porque os professores se empenhavam para explicar melhor e, mais ainda, por ela unir os alunos. Mas só a Stella sabe a batalha que foi conseguir, anos atrás, matricular sua filha numa escola regular… Mais uma mãe exemplar que fez da sua história uma luta contra a discriminação, integrando até mesmo a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down.

Por meio da Stella conheci outa mulher notável, a Claudia Werneck, pioneira na disseminação do conceito de sociedade inclusiva no Brasil e fundadora da Escola de Gente (www.escoladegente.org.br). A Escola de Gente defende um conjunto de princípios, reflexões e conteúdos alinhados com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU/2007), de cuja elaboração ela participou. A convenção é o único tratado de direitos humanos com valor de Constituição no Brasil. Recomendo fortemente que vocês entrem no site e conheçam melhor esse lindo trabalho de disseminação de informação e sensibilização sobre as questões de acessibilidade. Nas poucas conversas que tive com a Claudia aprendi muito sobre o que é ter uma postura inclusiva e passei a perceber em exemplos concretos como a nossa sociedade é atrasada em suas medidas e conceitos.

De acordo com o último Censo, de 2010, quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declararam possuir pelo menos uma deficiência nas áreas mental, motora, visual ou auditiva. Nessas horas fico me questionando e achando que vivo numa bolha, porque não tenho nem metade desse percentual entre meu círculo de amigos próximos… Será por falta de oportunidades?

Mudando de assunto, hoje amanheci na endocrinologista dra. Mirella Hansen, crente que ia ganhar uma estrelinha por ter andado na linha com a dieta nas últimas duas semanas. Infelizmente, meu bom comportamento alimentar não está sendo suficiente para baixar a taxa de glicose. Meu maior problema vem sendo na parte da manhã. Tenho acordado com a taxa alta, ainda em jejum, e depois do café ela não está descendo como deveria. Fiquei muito chateada e sensível, até chorei na frente da médica. Está sendo bastante difícil passar por tantas privações e o esforço não dá resultado? Como assim? pqp!

Vamos observar as taxas por mais uma semana antes de tomar uma decisão sobre a necessidade de introduzir insulina. Ontem comecei o dia com uma singela tapioca de queijo minas e peito de peru no café da manhã, por exemplo, e minha glicose subiu pra 175 na medição da hora seguinte. Se eu como uma banda de mamão e uma fatia de pão de forma com queijo, também saio do parâmetro.

Pra me consolar, ela disse que mesmo as gestantes que seguem a dieta à risca podem não resolver o problema apenas controlando a ingestão de alimentos. Tem alguma coisa a ver com os hormônios da placenta que ajudam o bebê a se desenvolver e bloqueiam a ação da insulina da mãe em seu corpo. A grávida pode vir a precisar de até três vezes mais insulina do que o normal e a diabetes gestacional começa quando o corpo não é capaz de produzir toda a insulina de que precisa para a gravidez. Sem insulina suficiente, a glicose não pode sair do sangue para ser transformada em energia e se acumula a níveis elevados.

E como isso tem afetado o meu humor… Por ser jornalista e autora da Agenda Carioca (que, aliás, acabou de ganhar um site, o www.agendacarioca.com.br, além de contar com um perfil no Instagram e grupo no Facebook), recebo muitos convites para eventos gastronômicos. Já criei até uma resposta-padrão na qual só preciso dar copy + paste: “Adorei o convite, mas sem poder beber, por causa da gravidez, e sem poder comer todos os alimentos, por causa da diabetes gestacional, eventos como esse viraram uma tortura. Não se esqueça de mim, mas também não conte comigo nos próximos meses…” Enfim, só me esforço pra ir nos eventos em que minha presença é imprescindível. Mas só metade da culpa é da diabetes, a outra metade é por pura preguiça… típica também de um final de gestação, quando a barriga já pesa.