A separação

Na noite do dia em que meu filho nasceu e foi internado na UTI, tomamos a decisão de que minha mãe dormiria comigo no hospital e meu marido, Joaquim, iria para casa e retornaria bem cedo na manhã seguinte. Ele mede 1,84m e dormir no desconfortável sofá da Casa de Saúde São José seria um sacrifício. Sem o bebê no quarto fazia menos sentido ainda. À noite, ele me mandou uma mensagem que me emocionou muito, onde num trecho dizia: “Hoje foi um dia de fortes emoções e você foi um escudo, protegendo a mim e as nossas famílias. Em vários momentos quis chorar, mas não queria te decepcionar. Estou aqui pensando em você e nele sem parar.” Lindo, né?

A cena de um bebê entubado com soro na veia do braço é forte (por isso prefiro usar uma foto anterior dele recém-nascido). Mas acho que na hora em que uma coisa dessas acontece com você, uma força maior toma conta das suas emoções e você segura a onda. Vira uma leoa disposta a tudo para proteger esse filhote. Pra mim, a pior coisa nesse dia foi não poder pegar ele no colo. No entanto, cantamos umas músicas, conversamos para que reconhecesse nossas vozes e fizemos carinho nele.

Naquela noite já tínhamos bons resultados para 80% dos exames, que ao todo consistiam em sangue, raios X de pulmão, ultrassonografia, eletrocardiograma e mais um neurológico cujo nome não lembro. Não falamos em amamentação ou qualquer estímulo dos seios, pois ele ainda não seria alimentado com leite materno e eu precisava descansar. Uma das vantagens de ter tido parto normal foi a facilidade em me deslocar do quarto para a UTI, que não era exatamente próxima e ficava em outro andar.

Uma regra do hospital muito rígida naquela época, e que na minha opinião poderia ser revista, era a de que apenas pai e mãe do bebê podiam entrar na UTI. Acho que na ausência de um dos pais, qualquer pessoa escolhida por eles, desde que não ultrapassasse o número de dois adultos, deveria poder acompanhar as visitas. Além de nós, pais, e da madrinha, que é médica e teve acesso liberado, o resto da família só conheceu o Felipe em casa.

Nada é mais confortador  do que colo de mãe, não importa a idade. Foi com a minha que tive a primeira descarga emocional, um choro longo abraçada na porta da UTI depois de ter revisto o Felipe, por volta da meia-noite. Sem falar que nada é melhor do que a intimidade de duas mulheres. No dia em que uma mãe dá à luz, por exemplo, coisas prosaicas são parte do processo, como a necessidade da bolsa coletora de urina, no caso das cesarianas, ou a troca constante de absorvente, devido ao fluxo de sangue intenso, ou a aplicação de gelo no períneo, que passa por episiotomia, rotina em parto normal.

Amanhã continuo essa novela contando como foi o contato com outras mães e profissionais da UTI, e a feliz volta pra casa.

 

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