Sentindo na pele

Estou em estado de choque desde ontem, quando saí do consultório da minha comadre e dermatologista dra. Roberta Bibas. Há alguns dias venho sentindo uma forte coceira nos braços, costas, axilas e abaixo do seio, na linha do sutiã. Tem sido pior à noite, razão pela qual há três noites levanto às cinco da manhã e não consigo voltar a dormir. Quando percebi que estavam se formando umas feridinhas de tanto coçar, marquei uma consulta.

Sou muito alérgica e achei que se tratava de alguma intolerância alimentar. Saí da clinica com o diagnóstico preciso: sarna. Sim, nessa altura do campeonato, arrumei sarna pra me coçar!!! E desde que recebi a notícia parece que o prurido triplicou.

Estou escrevendo este texto hoje, antes do sol raiar, e depois de ter reaplicado a loção de pasta d’água com enxofre e saco de gelo pelo corpo para evitar coçar. O fato de estar grávida me impede de usar os medicamentos mais fortes e a loção parece ser a única alternativa sem riscos. Também estou tomando Claritin por via oral, um antialérgico para diminuir o sintoma.

Graças à minha amiga de infância Juliana Lage, dona da farmácia de manipulação Primordium, três horas depois da consulta eu já tinha o creme nas mãos, que, ainda por cima, é manipulado e não é vendido em farmácia comum. Meu fim de tarde ontem foi uma gincana, pois, sendo véspera de feriado, corria o risco de não conseguir a fórmula antes de sexta.

A obstetra, por telefone, também recomendou um hepatograma, para descartar a possibilidade de elevadas taxas hepáticas que podem ter como consequência alergias na pele. Corri para o laboratório Sérgio Franco, mas, ao chegar lá, fui informada da necessidade de jejum de oito horas. Só poderei fazer esse exame na sexta, mas acho que o resultado não vai ser diferente, já que a minha dermatologista não tem dúvida sobre o diagnóstico.

Passei as últimas horas avaliando se deveria me expor, contando isso aqui no blog. Mas cheguei à conclusão de que vocês me dão força, e já que estamos juntos há quase nove meses, que seja na alegria e na tristeza. De repente, alguém já passou por isso e pode me dar algum conselho ou um pouco de consolo.

A escabiose, nome científico da sarna, é provocada por ácaros microscópicos que circulam numa camada superficial da pele. Os parasitas fêmeas depositam seus ovos à noite, por isso os sintomas pioram tanto de madrugada. Li tudo que pude na internet, falei com a minha obstetra, a alergista, e adotei medidas como se estivesse contaminada por ebola. Curioso foi descobrir, por exemplo, que a sarna canina não é transmissível ao ser humano, pois é causada por um outro tipo de ácaro. Quando um ser humano é mordido pelo ácaro da sarna canina, pode até sentir alguma coceira, mas é transitória, ao contrário da sarna humana, que se deixada sem tratamento, só piora.

A transmissão da sarna, que é bem contagiosa, se dá pelo contato físico ou por vestimentas e roupas de cama compartilhadas, como roupão de salão, cobertor de hotel, peças com as quais muitas pessoas entram em contato e não são higienizadas com frequência. Tenho algumas suspeitas de como posso ter pegado, mas prefiro não revelar para não prejudicar ninguém.

Como isso pôde acontecer justamente comigo??? E logo agora, nessa reta final… Existe um preconceito enorme com a sarna, doença relativamente comum entre pessoas imundas, mendigos… Na tentativa de me tranquilizar, a dra. Bibas me garantiu que muitas pessoas asseadas e cheirosas também pegam sarna, justamente por entrarem em contato com cobertores, roupões, bancos de taxi de tecido e por aí vai. Não é uma doença apenas de gente suja, mas justamente por ser muito contagiosa, ela se espalha muito rápido.

Estou com 36 semanas, quando, naturalmente, tudo já é mais difícil, e não bastasse os desconfortos naturais gerados pelo volume da barriga, ainda tenho que somar esse enorme incômodo e preocupação. Tenho vontade de chorar, estou com um mau humor de cão, mas preciso ser forte e acreditar que essa praga vai logo passar. A coceira em certos momentos beira o insuportável. Tento afastar pensamentos ruins, como o do Lucas nascendo antes da hora e da minha cura e eu não podendo segurá-lo no colo…

O Joaquim e o Felipe não manifestaram nenhum sintoma, mas é comum que a família toda seja infectada, por isso é preciso tratar preventivamente as pessoas com quem convivemos, evitando inclusive o contato físico. Ambos foram medicados ontem mesmo com Revectina. Não pretendo mandar meu pimpolho amanhã para a escola e até ter certeza de que ele não foi contaminado. Outra importante providência é lavar toda a minha roupa após o uso e trocar diariamente a de cama e as toalhas, pois o tratamento consiste em pelo menos sete dias, e os ovos que passam para o tecido podem voltar a me infectar.

Minha cama é tamanho king size e não devo ter mais do que quatro jogos de lençol. Sem falar que não quero colocar o Joaquim em risco. Trocamos tudo ontem e botei os rapazes dormindo juntos. Me transferi para o quarto do Felipe, de onde escrevi este texto hoje cedo pelo celular. Trocar e lavar um lençol de solteiro todos os dias é bem mais simples. Alguns médicos dizem que, além de lavar a roupa de cama com água quente, é preciso passar a ferro. Antigamente até ferviam lençóis, mas a dra. Roberta disse que não precisava tanto.

Bom, estou vivendo esse drama e não consegui pensar em outro assunto para escrever hoje.

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