Prevenir é melhor que remediar

Quando recebi o diagnóstico de diabetes gestacional fiquei meio perdida, sem saber quais as fontes de pesquisa confiáveis. Foi muito confortante e informativo ler aqui no Projeto Cegonha depoimentos de outras mães que passaram por isso e deram a volta por cima. Estou me consultando com a endocrinologista dra. Mirella Hansen de Almeida, que é mestre em Diabetes pela UFRJ, então aproveitei pra pedir a ela que escrevesse um texto mais técnico sobre o tema. Acredito que se trata de uma leitura informativa para qualquer gestante que pretenda adotar medidas de prevenção. Confiram:

Diabetes Gestacional
O diabetes gestacional é definido como qualquer grau de redução da tolerância à glicose, o que gera um aumento dos níveis de glicose sanguínea que se inicia ou é detectado durante a gravidez.

No Brasil, em torno de 7% das gestações são complicadas pelo aumento da glicemia.

O diagnóstico é feito por busca ativa, com testes que empregam sobrecarga de glicose, a partir do segundo trimestre da gestação. Ou seja, a doença deve ser pesquisada em toda gestante.

É importante também a triagem precoce de gestantes de alto risco na primeira consulta pré-natal, para identificar casos de diabetes preexistente e que não devem ser classificados como diabetes gestacional.

Em 2010, A International Association of Diabetes and Pregnancy Study Groups (IADPSG), reuniu pesquisadores de todo o mundo e sugeriu um novo critério diagnóstico, baseado no teste oral de tolerância com ingestão de 75g de glicose pela gestante (TOTG 75 g) realizado em duas horas. Para definir o diagnóstico da diabetes gestacional com esse teste, pelo menos um dos seguintes limites deve ter sido ultrapassado:

– glicemia de jejum: maior ou igual a 92 mg/dL;

– glicemia após 1h do teste: maior ou igual a 180 mg/dL;

– glicemia após 2h do teste: maior ou igual a 153 mg/dL.

A partir de 2011, a American Diabetes Association (ADA), Sociedade Americana de Diabetes, endossou esse critério diagnóstico, tornando-o mais amplamente difundido e hoje o mais utilizado.

Essa mudança causou um aumento significativo da prevalência de casos de diabetes gestacional, chegando a até 17% das gestações. Esse número sugere que, anteriormente, muitos casos não eram diagnosticados, o que gerava um risco desconhecido para a mãe e seu bebê.

O diagnóstico precoce e o tratamento são extremamente importantes e buscam reduzir as complicações para ambos, mãe e bebê.

As complicações mais frequentes são:

– para a mãe: contraindicação relativa de parto normal, por risco aumentado de complicações durante o parto e pré-eclâmpsia;

– para o bebê: prematuridade, macrossomia, distocia de ombro, hipoglicemia e até a morte perinatal.

Tratamento do diabetes gestacional
Assim como nos outros tipos de diabetes, o tratamento do diabetes gestacional inclui dieta individualizada e atividade física e, quando indicado, uso de medicação.

O tratamento do diabetes gestacional necessita de uma equipe multidisciplinar que inclui o seu obstetra, um endocrinologista especializado em acompanhar gestantes, uma nutricionista e um preparador físico.

O objetivo do tratamento é atingir glicemias antes das refeições < 95 mg/dL e < 140 mg/dL uma hora após as refeições. Dessa forma, a glicemia deverá ser testada antes e depois de todas as refeições, sendo necessária sua medida pelo menos seis vezes por dia. A gestante deve adquirir um aparelho para medir a glicose na ponta do dedo e acompanhar esses valores de perto com o seu endocrinologista.

Dieta
A dieta é fundamental para o sucesso do tratamento, pois evita o ganho de peso excessivo e gera menos complicações para a mãe e o bebê.

A ingestão de carboidratos deve diminuir para menos de 40% das calorias diárias, com o restante distribuído entre proteínas e gorduras.

O ideal é procurar uma nutricionista acostumada a acompanhar gestantes para individualizar o seu plano alimentar.

Exercício
A prática de exercícios é muito importante no tratamento, pois ajuda a diminuir a glicemia e reduz o ganho excessivo de peso da mãe, diminuindo o crescimento excessivo do bebê.

Deve, portanto, ser recomendada para todas as gestantes diabéticas, na ausência de contraindicações.

Geralmente, as grávidas que já realizavam exercícios podem continuar ativas. O ideal é conversar com seu obstetra sobre as contraindicações e procurar um preparador físico para traçar um plano de exercícios, monitorando a atividade fetal, a frequência cardíaca da mãe e a glicemia capilar antes e após a atividade.

Tratamento medicamentoso
O endocrinologista acompanhará a eficácia do seu tratamento através da análise das medidas da glicose na ponta do dedo. Se os alvos não forem alcançados com dieta e atividade física, ou o ultrassom mostrar sinais de crescimento fetal excessivo, o tratamento mais seguro para o diabetes gestacional é a insulinoterapia, ou seja, o uso de insulina pela mãe.
Embora a maior parte dos casos de diabetes gestacional se resolva no período pós-parto, o que deverá ser constatado pelo endocrinologista em reavaliações em até seis semanas após o parto, o risco de essa mulher desenvolver diabetes no futuro torna-se maior do que o normal.

Sendo assim, essa mãe deverá realizar a medida da glicemia de jejum anualmente. Além disso, é muito importante que a gestante que desenvolveu diabetes gestacional perca todo o excesso de peso ganho durante a gravidez e mantenha-se sempre saudável para minimizar o risco de diabetes tipo 2 no futuro.

Dra Mirella Hansen de Almeida
Endocrinologista pela UFRJ
Mestre em Diabetes pela UFRJ
Membro titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)
Membro da Endocrine Society
Professora da pós-graduação do Instituto de Pesquisa e Ensino Médico (IPEMED)
mirellah@uol.com.br

 

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