A infiel da balança

Estou deprimida. Além do excesso de bagagem, voltei da viagem com excesso de peso. Hoje cedo tive consulta com a minha obstetra, dra. Juraci Ghiaroni, e verifiquei que ganhei 2,7 kg desde a minha última pesagem, realizada no dia 21 de janeiro. Ontem, quando me dei conta do vacilo que dei de ter marcado o atendimento tão perto da minha chegada, sem tempo hábil para fazer uma leve dieta, tentei remarcar, mas como semana que vem ela não teria horário livre, acabei indo hoje mesmo. A consulta correu bem, sem grandes emoções, sem muitas perguntas de minha parte. E saí de lá com alguns pedidos de exame, como o indigesto teste de tolerância a glicose, que deve ser feito entre 24 e 28 semanas de gestação.

Minha barriga cresceu visivelmente nesses 13 dias de viagem, mas achei que fosse consequência do salto natural que rola do quinto pro sexto mês. Não tinha atribuído a expansão a tanta falta de vergonha na cara. Pra acabar de vez com a minha autoestima, a babá do Felipe comentou que reparou que o meu nariz está mais “largo”. Lamento informar às mães de primeira viagem que isso pode acontecer com vocês. O meu nariz ficou inchado na minha primeira gravidez e o fenômeno está se repetindo. Se ela não tivesse dado o alerta eu talvez demorasse mais dois meses para me dar conta. Agora, é tudo que eu reparo diante de um espelho.

Resolvi contar algumas calorias para justificar o ocorrido, mas cheguei à conclusão de que “there is no free lunch” para quem fez três refeições por dia em restaurante. Por outro lado, não engordei me atracando com uma caixa de Bis por dia. Tudo que vivi e experimentei foi digno de nota, e os incríveis lugares por onde passei e das coisas que saboreei vão ficar muito bem guardados na minha memória, material à altura de Proust.

Espero que daqui a muitos anos eu ainda consiga me lembrar tão bem quanto hoje do sabor do milkshake de Nutella do Café Crepe; do ravioli de milho com lascas de trufa branca do Capo; da sobremesa de chocolate do FIG; das lulas fritas do Ivy, todos em Santa Monica; do fish & chips num restaurante de beira de estrada em Big Sur; do farto bufê de café da manhã e dos morangos carnudos cobertos com chocolate nos aguardando no quarto do Four Seasons; dos mariscos do Brophy’s Bros e do Labneh do Zaytoon, em Santa Barbara; da pizza da Cantinetta Luca; do patê campanha do La Bicyclette; do waffle regado com muito mapple syrup no café da manhã do La Playa Carmel, em Carmel; do cheesecake tradicional da rede Cheesecake Factory; da salada de frango ao curry do Dean & Deluca; da microtacinha de Opus One; do pão trançado servido no couvert do Bouchon, em Napa Valley; do confit de pato do Boulevard; da degustação de 11 pratos do Coi; da Moussaka do Kokkari; do sorvete Smitten, feito com nitrogênio; do pain perdu do Café Presse; da burrata do Cotogna, em São Francisco.

Vou torcer pra que a minha nutricionista, Duda Guaraná, cuja filhota Isabel nasceu com saúde há uma semana, esteja muito ocupada amamentando e não leia este post.

 

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