Escutando demais

Veio jantar na minha casa hoje um casal muito querido, a Marisa Vianna e o Regis Tavora, que foram muito generosos em trazer pra mim de recente viagem aos Estados Unidos, uma encomenda de babá eletrônica. Como quase todo equipamemto eletrônico, a diferença de preço daqui pra lá é gritante. Vale a pena abusar da boa vontade de um grande amigo ou uma “mula” de estimação…

Pelas contas do Joaquim esta foi nossa sétima babá eletrônica em três anos e meio de vida do Felipe. Ele acertou em cheio. Pode parecer perdulário, mas tenho justificativa para cada nova aquisição.

Antes do Felipe nascer, não tinha a preocupação de querer ver o bebê através de um monitor. Nossos quartos eram próximos e acreditava que o som bastaria para me ajudar a despertar. A minha primeira babá eletrônica tinha apenas áudio e dois receptores, pois raciocinei que seria prático ter um ponto na cozinha e outro no quarto. Bonitinha, mas ordinária. O sinal era ruim e ela ainda emitia um chiado constante. Na prática, senti falta de saber melhor o que estava acontecendo no quarto ao lado sem precisar necessariamente levantar da cama todas as vezes. Sem ver não dá para adivinhar se o bebê está desperto ou sonolento. Parti para uma babá com vídeo da Samsung e fui muito feliz com a escolha por bastante tempo, até que um dia ela pifou. Do nada.

Comprei outro modelo, um lançamento da Motorola, que me atendeu razoavelmente até poucas semanas atrás, quando fiquei sabendo que uma pessoa da minha família estava precisando muito mais do que eu. Emprestei e acabei dando de presente. Queria no fundo um pretexto nobre para comprar uma nova babá eletrônica, pois achava que no meu atual apartamento, que tem uma planta mais comprida, ela não funcionava tão bem em alguns pontos estratégicos.

Desde que me mudei, em 2013, experimentei mais uns três modelos baratinhos. Não tinha mais coragem de investir alto diante de tantas tentativas frustradas. Até que um dia ouvi falar maravilhas da Withings, uma babá que funciona pela internet e é monitorada pelo celular. Não resisti. Comprei esquecendo que “banda larga” no Brasil, na real, é só um bumbum avantajado. O sinal era constantemente interrompido, não me deu a menor segurança, além de consumir rapidamente a bateria do celular.

Os modelos mais tops de marcas conhecidas que encontrei hoje no mercado são a Motorola MBP36S e a Samsung SEW-3037W. Escuto muitos elogios à recepção dos modelos da Summer Infant, mas implico com o design. A vantagem de todas essas babás mais sofisticadas é que elas tocam música à distância, acendem uma luz com acionamento remoto e permitem que você fale remotamente pelo microfone com o seu bebê apertando apenas um botão.

Aprendi com o tempo que babá eletrônica também pode ser um acessório muito perigoso, promovendo intrigas e até divórcio. Me contaram uma história de duas ou três amigas que foram para o quarto do bebê fazer companhia para a mãe anfitriã que precisava amamentar, e uma delas, aproveitando o momento de intimidade, revelou detalhes sobre um caso extra conjugal. Na sala estava o receptor e, também, todos os respectivos maridos, inclusive o corno, que escutou a conversa tim tim por tim tim.

Passei eu mesma por uma situação constrangedora na Fazenda do Serrote, quando viajei com a minha cunhada e mais um casal de amigos. Deixamos o Felipe no quarto dormindo e carregamos a babá para a sala de jantar. Muitas garrafas de vinho depois, nos sentamos no jardim junto a outros hóspedes em volta de uma fogueira. O Joaquim se despediu subitamente do grupo, inclusive de mim, dizendo estar muito cansado, que preferia deitar-se. O aparelho permaneceu comigo e… de repente, todos a minha volta escutaram o meu marido vomitar a alma. Pressionei a babá contra o peito tentando abafar o som enquanto não localizava o botão desligar, mas a sinfonia foi abafada mesmo pela gargalhada coletiva.

 

 

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