Nunca é tarde demais

A especialista em sexualidade e reprodução humana Françoise Quintanilha Padula escreveu um texto muito interessante sobre fertilidade para o Projeto Cegonha que hoje compartilho com vocês.

Nunca é tarde demais

Por ser especialista em reprodução humana, recebo pacientes queixando-se de infertilidade com grande frequência. Algumas vezes, porém, lamento o fato de terem me procurado tão tarde. Não as culpo, muitas pessoas não têm acesso a informações relacionadas a reprodução assistida. Os textos em revistas e jornais são superficiais e não focam o mais importante: a individualização de cada caso.

Este texto não tem a pretensão de esclarecer tudo em reprodução assistida, mas gostaria de mostrar às mulheres quando devemos buscar uma opinião profissional. Engravidar, ao contrário do que imaginamos, não é uma tarefa fácil. Por isso um casal que está tentando engravidar há menos de um ano não deve, necessariamente, ficar preocupado. Mas existem exceções.

Costumo falar para as minhas jovens pacientes que, até 35 anos, o que a mulher mais tem é tempo. No entanto, apesar de achar todas as mulheres jovens e lindas, após essa idade o tempo está contra nós. Explico: pacientes até 35 anos devem tentar engravidar de forma espontânea e, caso isso não aconteça em um ano, devem procurar um especialista em reprodução assistida. Já as pacientes acima dessa idade devem tentar engravidar em seis meses de forma natural, não mais que isso. E para as mulheres de 40 anos ou mais, a reprodução assistida deve ser a escolha imediata ao pensar em gestar.

E aquelas que ainda não encontraram o homem certo ou que estão muito focadas na carreira profissional e não pretendem engravidar antes dos 40 anos? Essas mulheres têm hoje uma opção segura de preservação de sua fertilidade através do congelamento de seus óvulos ou de embriões, com seus parceiros ou com a utilização de espermatozoides de bancos de sêmen. O importante é saber que a idade ideal para esse procedimento deve ser anterior aos 35 anos, pois, do ponto de vista reprodutivo, mulheres acima dessa idade possuem óvulos cada vez menos saudáveis.

Muitas leitoras citarão casos de gestação em faixas etárias mais elevadas. Realmente, elas podem acontecer, mas não devemos contar com exceções quando existe um desejo genuíno de planejar sua família para um futuro distante. No entanto, nunca será tarde demais nem para as mulheres que estão na menopausa. Ainda se pode gerar um filho através da doação de óvulos. Antes de se fechar a essa ideia, você deve saber que a impressão digital do feto é formada dentro de sua cavidade uterina, e que ele possui essa característica única graças ao contato com seu útero.

Mas existem ainda aquelas mulheres que não possuem mais útero. Para estas, existe a possibilidade de utilizar uma barriga solidária. Por enquanto, pois no último congresso de cirurgia laparoscópica da academia americana presenciei o procedimento de transplante uterino, técnica que está evoluindo e será uma outra forma de ajudar as mulheres a gerar seus bebês.

Por isso esclareça suas dúvidas e planeje com cuidado seu futuro reprodutivo, mas jamais deixe de acreditar que a gestação é possível para você.

Françoise Quintanilha Padula é casada e mãe de dois filhos: Rodolfo e Valentina. Ginecologista e Obstetra da Febrasgo, especializada em Sexualidade Humana pela USP, especialista em Reprodução Humana e especialista em Endometriose e Cirurgia Minimamente Invasiva pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês. Hoje atua em seu consultório em Petrópolis, além de ser monitora em laparoscopia no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

 

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